quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Sete pecados - Luxúria

Pela manhã ela era Isaura, dona de uma loja de roupas no centro da cidade, divorciada, mãe de um casal de gêmeos, a separação logo após o nascimento. Pela noite ela era a insaciável Scarlet, dançarina de pole dance, seios fartos saltando do espartilho, estrias da gravidez mascaradas pela luz vermelha, mas isso era apenas um hobby.

Fosse Isaura ou Scarlet, ela desejava todos os olhares. Homens que desejavam aquele corpo sedutor deitado em suas camas, chamando pelos seus nomes entre gemidos e suspiros. Mulheres que a invejavam por ter um corpo tão formoso mesmo após ter posto no mundo duas crianças. Gostava tanto de imaginar todas aquelas pessoas com o olhar preso nela que só gozava pensando nelas.

Não tinha jeito. Podia ser negro, branco ou amarelo, pequeno, médio ou grande, grosso ou fino, romântico ou selvagen, vibrante ou não, se ela não conseguisse visualizar aqueles olhares ela não tinha orgasmos. Nenhum deles nunca se decepcionou por não ter feito seu serviço direito, mesmo ela pagando por cada um. Muito menos ela os culpava, o problema era com a imaginação dela. Nunca ligou para reclamar de nenhum e até mesmo dava nova chance aos que falhavam.

Só descobriu o que faltava na sua cama quando se separou do marido e começou a notar as olhadas que os homens do prédio davam. Por um tempo, a imagem deles foi suficiente, mas ela queria mais, muito mais. Foi aí que surgiu a ideia de trabalhar pela noite para variar o cardápio. E assim viveu a sua vida, conquistando olhares pela noite e dinheiro para comprar vibradores pela manhã. Não gostava de ser observada nos momentos de prazer.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Já é Natal (2)

Faltam pouco para o dia mais esperado do ano. Povos de todos os continentes comemoram da sua própria maneira a data. Em alguns lugares vemos desfiles, grandes festas e shows pirotécnicos pra celebrar o Natal. Em todos os continentes as pessoas festejam, só não sabem o por quê.

Quando era pequeno, descobri de uma maneira bastante dolorosa que o papai Noel, o coelho da Páscoa e a fada dos dentes não existiam, cada um na sua hora. Depois disso, achei que a vida nunca mais iria me enganar. Acreditava que nada e nem ninguém poderiam me iludir novamente. É claro que eu ainda não sabia o que era amor, mas isso não vem ao caso agora. Como não é de se estranhar, me ludibriaram outra vez. Eu e todos vocês.

Se eu perguntasse agora, valendo tudo ou nada, o que é que comemoramos no Natal, a maioria esmagadora diria que essa é uma pergunta fácil, idiota e que o motivo de tanta festa é o nascimento do menino Jesus. Parabéns, você está errado. Antes de se sentir indignado, ultrajado e sair para convocar uma turba furiosa com tochas e forcados para caçar um herege enviado pelo Satanás, deixe me perguntar duas coisas: em qual Bíblia e em qual passagem você encontrou a data de nascimento do Salvador? Ou você só acredita por que lhe disseram? Ninguém sabe quando Ele nasceu, em nenhum momento as escrituras sagradas indicam o dia em que Cristo veio ao mundo. O dia 25 realmente é uma data muito especial, mas não para os cristãos.

No Natal, acontece o solstício de inverno. Nessa data, os povos pagãos celebravam o Deus Sol. Esses povos foram conquistados por civilizações cristãs e, para facilitar a transição entre uma religião e outra, a Igreja decidiu que as comemorações continuariam, porém, por outros motivos. Desde então, geração após geração, especial de Natal após especial de Natal, as pessoas continuaram a disseminar essa mentira sem que nenhum de nós questionasse. E você se achando o espertão por ganhar presente no aniversário dos outros, né?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Já é Natal

Foi em Dezembro do ano passado que fiz um post sobre o bom e velho amigo secreto. O tempo passou tão rápido que já está na hora de falar sobre o Natal de novo. Calma, nada de post sobre amigo secreto de novo. Afinal, presente de grego, só na festinha do dia vinte e quatro.

Estamos prestes a completar a primeira década do segundo milênio depois de Cristo aqui no nosso planetinha azul. Se você tem um emprego correto, por pior que seja ele ou o seu chefe, você já deve ter recebido o seu décimo terceiro ou pelo menos já pensou no destino que ele terá. Como você não deve ser o Eike Batista, mas se for aceito doações, esse dinheiro extra chegou pra aliviar a sua situação. Com ele você poderá quitar as dívidas que já fez comprando presentes para poder adquirir, adivinhem, mais presentes. Quem se importa? É Natal mesmo e você só pensará nisso depois do Carnaval quando vencerá a primeira parcela.

A ideia de trocar presentes no Natal deveria ter concorrido ao Nobel de economia. Ela revolucionou o mundo. Nós temos o dia das mães, dos pais, das crianças e muitos outros, entretanto, todos eles homenageiam um grupo específico da sociedade. Menos o Natal. Não importa se você é alto ou magro, bonito ou feio, doente ou saudável, católico ou evangélico, todo mundo ganha presente. Até as pessoas que você não gosta ganham presente. Veja se alguém esquece de mandar um agrado para a sogra. Esquece nada, até porque, a ceia é na casa dela e você nunca sabe com o que é que ela recheia o peru. Porém, estamos tão preocupados com que iremos ganhar de presente que acabamos esquecendo do verdadeiro espírito da coisa toda.

Seu pai foi tomar todas com os seus tios na cozinha, sua mãe sentou do seu lado e não para de falar mal da roupa dos outros, seu irmão está desde a hora em vocês saíram de casa dizendo que o presente dele vai ser melhor e mais caro que o seu, e, você, pobre alma, está esperando ser libertado desse calvário para sair e tomar todas com os seus amigos, falar mal dos outros e contar vantagem sobre os seus presentes. É nisso que o Natal está se transformando. São raros os jovens que querem passar a data com a família e depois ir para a cama esperar o bom velhinho chegar. As cenas de famílias enormes reunidas ao redor de fartas mesas ficaram para os comerciais de chester. Os papais noéis que antes eram aguardados nas ruas, agora são meros artigos de decoração e propagandas baratas. A culpa disso é toda nossa. Quem mandou deixarmos de acreditar no velhinho barbudo que levava alegria para todas as crianças do mundo?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Apenas mais uma de amor (9)

Eram quatro amigos: Arthur, Gabriel, Laura e Bia. No tempo da escola, Gabriel namorou com Bia, mas acabou mesmo foi com a Laura. Quem consolou a pobre Bia foi o Arthur. Mulher como ela não se desperdiça. Consolo vai, consolo vem, ficaram juntos. O casal de amigos vibrou com a notícia, tudo voltava ao normal. O quarteto estava reunido.

A amizade era tão grande que, Arthur e Gabriel, resolveram noivar no mesmo dia. Se fosse pra sofrer da vida de casado, que sofressem juntos. Fizeram uma grande festa surpresa com parentes e amigos dos casais. Festa pra ninguém botar defeito, muito menos elas duas. Ambas aceitaram e casaram juntas. Mesma igreja, mesmo padre e mesma data.

Anos se passaram até que Bia e Laura começaram a desconfiar das saídas dos maridos. Não tinham como provar nada, mas como intuição de mulher é fogo, colocaram os dois na parede mesmo assim. Os maridos, que também estavam desconfiados, resolveram tirar tudo à limpo. O que os quatro descobriram, mudou a vida deles.

Para evitar futuras traições, marcaram um swing entre eles, coisa simples. Assim, ninguém precisaria fazer nada escondido ou pelas costas. Seus cônjuges teriam outra companhia, mas uma companhia que nunca fez mal para eles. Outra pessoa, porém, conhecida.

Após o sucesso do primeiro, outros foram agendados, até que, os finais de semana, tornaram-se sagrados. Jantavam os quatro juntos, sempre na casa de um dos casais, nunca em lugares que envolvessem terceiros, e, em seguida, dirigiam-se em pares para um dos quartos. Apenas lá, apenas nos finais de semana, apenas os quatro amigos. Só então, Arthur podia ser de Gabriel e Laura possuía Bia, como nos velhos tempos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Direitos humanos

Uma cidade aterrorizada, avenidas bloqueadas com carros em chamas e uma população que sai de casa com medo de não voltar. Os noticiários deixaram de exibir seus quadros habituais para mostrar apenas a situação do Rio de Janeiro. A rotina dos moradores que não conseguem dormir com os tiros e nem podem chegar próximos aos portões e janelas de suas casas. O país inteiro comovido e preocupado com a situação das famílias dos inocentes que se encontram no meio de uma guerra civil. É essa mesma compaixão com as vítimas que transformou as favelas em verdadeiras terras onde as leis do Estado não alcançam.

Quando a polícia ou os grupos táticos vão atrás de traficantes, a função deles é trazê-los vivos. Alguns acabam morrendo no embate, mas vários também são presos e levados à julgamento. Eles serão levados para penitenciárias onde serão sustentados pelo governo, ou seja, pelos nossos impostos. As famílias dos que morreram e humanistas partem em defesa dos que tombaram frente à invasão. Perguntam onde estavam os direitos humanos daquelas pessoas, meras vítimas do problema social do nosso país, quando foram mortas pela máquina de guerra do Estado. Respondo: estavam enterrados com os verdadeiros inocentes, incapazes de fazer nada para os que realmente mereciam.

Os traficantes que não são mortos, continuam a comandar o crime da cadeia. A população tira do bolso o dinheiro que mantêm vivos seus futuros algozes. Dinheiro esse que poderia ser utilizado na melhoria de vida do povo. Em entrevista, um Capitão do BOPE alegou "Só Deus pode julgar estes traficantes, o papel do BOPE é promover este encontro". O pessoal caiu em cima dizendo que ele o seu batalhão são monstros inescrupulosos. Vamos lá. Concordo com os direitos humanos e acredito que todo homem tem o direito de viver, mas acredito também que os direitos humanos valem apenas para aqueles que são humanos. O dono da boca não se preocupa com os direitos dos moradores da favela e nem pensa nisso quando manda eliminar algum desafeto. Então, por que é que devemos tolerar e perdoar as atrocidades cometidas por bandidos se eles mesmo não toleram e nem perdoam ninguém?

Humanismo é pra quem é humano e acabou. Se eles alegam que traficante é vítima, então a população é vítima em dobro. Gente metida a pseudo-intelectual que parte em defesa deles, transferindo a culpa toda para os governantes. O cara entra no crime porque quer. Ninguém obriga. Se toda pessoa que se sente abandonada pelos políticos que elegeu entrasse pro tráfico, teríamos um estereótipo de que todo favelado é bandido. Entretanto, o que vemos é a luta diária de famílias de trabalhadores honestos contra o crime. A polícia tinha mais era que ter atirado em todos os que fugiram da Vila Cruzeiro para o Morro do Alemão. É errado? Quer dizer que devemos ter pena do cara que, além de matar, destrói uma família vendendo drogas? Falam isso porque a desgraça não é nas famílias deles. Piedade é o cacete, bala na caveira mesmo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Apenas mais uma de amor (8)

Estava terminando de escovar os dentes quando seu irmão mais novo entrou. Ele já o observava desde o momento em que saira do banheiro e fora para o quarto se arrumar. O dia fora duro. Tinha acabado de escrever uma carta de revolta à sua mãe. Haviam discutido mais uma vez, mas, por sorte, seria a última. Ela também estava de olho nele.

Olhou para o espelho antes de cuspir a espuma e notou o pequeno ser amarelo que se esgueirava por detrás dele. Enquanto limpava a boca, ele colocou-se ao seu lado e começou a olhar de canto. Olhou-o da cabeça aos pés, ainda desconfiado das reais intenções do moleque. Quando voltou ao espelho, percebeu que os olhos dele estavam vermelhos como os seus. Resolveu perguntar o que havia acontecido, mas ele não parecia querer responder. Não é nada. E é claro que não seria nada. Ele não diria o que estava lhe preocupando se o que lhe preocupava era o seu irmão mais velho. Tentou outra abordagem: abraçou-o e disse que o amava. Só não esperava que ele fosse chorar.

- Calma, cara, seu irmão volta já. - Disse o mais velho enquanto fazia carinho e tentava conter as lágrimas que queimavam os seus olhos.

- Achei que você fosse embora e que não fosse voltar mais nunca. - parou para soluçar e continuou.- Não quero que você vá embora.

- Seu irmão está aqui e vai continuar do seu lado pra sempre. Promete que não vai me abandonar também?

A resposta saiu na forma de um soluço, mas isso não importava. Eles estavam juntos agora e continuariam juntos mais tarde. Houvesse uma promessa ou não. Ele era mais do que um irmão, era um filho que ele cuidaria para o resto da vida. Vê-lo daquele jeito, fez com que ele lembrasse do que era realmente importante. Abraçou-o mais forte ainda e deixou-o melar a sua camisa com catarro:

- Amo você mais do que a mim porque seu irmão te quer bem como se você fosse meu próprio filho.

Soltou-o e sorriu. Ele estava decidido, não seria igual ao seu pai. Sabia demonstrar seus sentimentos, não seria indiferente. Eram parecidos fisicamente e tinham o mesmo temperamento, mas eram pensamentos e ideais diferentes. Seu irmão nunca o deixaria esquecer disso.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tipos de aluno - O nerd fodão

Apesar do aluno curioso ser odiado por todos, o nerd fodão consegue ser ainda mais. Ele é diferente do curioso porque pergunta coisas que realmente têm serventia ou, por ser tão inteligente, nem precisa perguntar nada. Porém, o que o faz sentir- se superior em relação ao resto da plebe que caminha pelos corredores da faculdade é o fato dos professores gostarem dele.

Todo professor baba pelo cara que responde todas as perguntas e faz piadinhas idiotas com o assunto. Apenas ele e a elite nerd ri das piadas, dando a impressão de que o resto da sala é burra demais para entender. Ledo engano, as piadas são péssimas mesmo. Como se assistir aula já não fosse chato o bastante, ainda temos que escutar besteira e rir para não passar de burro. Entretanto, esse ainda não é o motivo deles serem odiados.

Agora sim, chegou a hora da verdade. Ninguém gosta dele porque, além de faltar aula e tirar notas boas, ele sabe tudo e não divide o que sabe com ninguém. Muito menos na hora da prova. Só faz trabalho com o resto da gangue nerd, não empresta o caderno pra tirarem cópia e faz os testes parecendo que está protegendo um pão na Etiópia. Por mais que você precise de nota, ele não vai te ajudar. Precisa que alguém te ensine a aula que você faltou? Azar o seu, ninguém mandou ir pro bar durante a semana. Por sorte, existem dois modos de um nerd fodão virar um nerd comum: ele começar a se incomodar com o fato de todo mundo elogiar bastante a mãe dele ou ele se ferrar gostoso na faculdade.

Ele está fadado ao fracasso. Ele senta no seu pedestal e acha que todos os outros são apenas escórias que irão se formar depois dele. Sente que nada irá devolvê-lo à condição de mortal e resolve pegar matéria com os professores mais difíceis. Se uma matéria é ofertada com dois professores, um mais tranquilo que aprova todo mundo e outro mais filha da puta que aprova apenas um, todo mundo corre pro mais fácil, mas ele não. Ele tem a certeza de que irá passar e escolhe o mais difícil. Para infortúnio dele, eu rezo com todas as minhas forças para que ele quebre a cara e veja que não é lá esse Steve Jobs todo. Quando perdem a matéria, sou o primeiro a ir lá, botar o dedo na cara e dizer: se fodeu.

Agora, melhor que vê-lo se dar mal, só tirar uma nota maior que a dele. Nunca tinha conseguido um feito desses até este período. Consegui a terceira maior nota em mecânica dos solos Então, me chame de minhoca e chupe essa. Próximo tipo de aluno ainda indefinido, alguma sugestão?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tipos de aluno - O curioso

Quando você entra na faculdade, você é obrigado a conviver com pessoas que te agradam e as que não te agradam. Não só nos corredores, mas também nas salas de aula, você é obrigado a respirar o mesmo ar que muita gente que você preferia que não respirasse. Verdade seja dita, tem horas que dá vontade de matar um. Se fosse para fazer uma lista, o curioso estaria entre os primeiros a serem caçados.

Não tenho nada contra quem gosta de tirar suas dúvidas, pelo contrário, quando tenho curiosidade, também questiono. O problema é que esse tipo de aluno faz perguntas irrelevantes, nas piores horas e não concordam com as respostas que recebem. Eles não se contentam em saber o que é necessário para o curso, eles querem mais, muito mais. Inventam, criam e distorcem teorias, leis e fórmulas a bel prazer. O que cientistas levam anos ou até mesmo décadas para pensar, experimentar e tirar uma conclusão, eles querem criar a partir de suposições em alguns minutos. Nem os professores gostam deles.

Ontem estava na aula de engenharia econômica e o professor tinha acabado de falar sobre juros simples. Juros simples é algo universal e, como o próprio nome já diz, é simples. Para quem não conhece ou não lembra da fórmula, ela diz que os juros é um produto entre o capital, a taxa de juros e o tempo em que ele foi aplicado. Esse ser das trevas que pega matéria comigo por ser do mesmo curso também estava lá e resolveu tirar uma dúvida que, de início, foi até construtiva. O que acontece quando a taxa de juros é variável:

- Se a taxa é variável, é só você calcular em função de cada taxa e do seu respectivo tempo. - respondeu o professor.

- Ah, mas só isso? - perguntou desapontado.

- Que eu saiba só, não conheço nenhuma outra forma. Por quê? Já viu de outro jeito?

- Não... É porque eu queria fazer os juros em função do seno ou do cosseno para depois integrar sobre a região e blá blá blá...

- Rapaz, deixe de problema e use a fórmula.

Eles geralmente atrasam a aula e fazem com que o professor marque aulas fora do horário normal. Odeio eles porque se eles atrapalhassem a aula com dúvidas sem pé nem cabeça e tirassem boas notas, não teria problema nenhum, mas geralmente as deles são medianas ou baixas pelo fato deles complicarem o que já está simplificado. Próximo tipo de aluno: o nerd fodão.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ENEM

No último final de semana foi realizado em todo território brasileiro o ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio. Milhões de estudantes saíram de suas humildes e aconchegantes residências e dirigiram-se até os seus respectivos locais de prova. Alguns foram a pé, outros foram de carro, outros de ônibus, outros de moto, outros de barco, outros de carroça e até mesmo de bicicleta. Nem todos chegaram à tempo de entrar, mas com certeza não foi por falta de aviso.

Em todos os jornais, revistas e programas de televisão, foi noticiado tudo sobre o exame. Mesmo quem não ia fazer a prova sabia quais deveriam ser as medidas tomadas para evitar surpresas no dia. O vendedor de água e canetas que estava na porta do colégio em que fiz prova sabia que canetas azuis não seriam permitidas, do mesmo jeito que o melhor é entrar logo para não ficar do lado de fora. Por que os candidatos não sabiam? Não chegou a tempo? Paciência, meu amigo. Mais sorte no próximo ano. Agora, a pessoa chega alguns minutos depois do horário e quer ter o mesmo direito de entrar que as que resolveram sair cedo de casa e ficaram lá sem fazer nada sentados esperando. Depois aparece no Jornal Nacional em prantos porque perdeu a prova. Acho é pouco.

Como se não bastasse a confusão que já fizeram com o horário, agora eles querem anular o coitado do ENEM. Vamos aos fatos. Alguns alunos que receberam a prova amarela, encontraram uma questão com o número trocado e não encontraram uma outra. O problema foi que quando perceberam isso, as provas foram trocadas por provas amarelas sem defeito ou por provas de outra cor, mas alguns já tinham marcado as questões ou a cor da prova no cartão-resposta. Ponto.

Quem em sã consciência sai marcando um gabarito sem antes conferir se todas as questões estão enumeradas corretamente e em seu devido lugar? Minha gente, qualquer papel impresso é digno de falhas, sejam elas operacionais ou técnicas. A minha prova foi a amarela e, adivinhem, ela estava defeituosa. Nem por isso cheguei em casa me doendo porque fiz uma cagada por "culpa" do MEC. Além do que, foi todo mundo avisado que era pra marcar na ordem das questões e não pelo que estava escrito no gabarito. Aí o cara marca errado e quer que anule? Não mesmo.

Eu podia ter ido à praia, estudado pras provas que tenho amanhã, saído com a minha namorada, enchido a cara no aniversário do meu primo, ido pro show do Asa, curtido um cinema, dormido o dia inteiro, lido um livro ou qualquer outra coisa que eu quisesse, mas não, ao invés disso paguei R$35,00, acordei cedo, para um final de semana, para fazer uma prova que preferia não fazer. Depois de ter enfrentado um total de oito horas de prova, me dizem que a prova não vai ter validade. Quer dizer que, para não afetar um pequeno grupo que fez burrice porque quis, eu e mais outros milhões vão ter que sair no prejuízo? Nem a pau, Juvenal.

Não vou fazer mais prova nenhuma e nem perder outro final de semana. Pelo menos tenho a certeza de que não sairei de mão vazias. Ou saio com minha pontuação do ENEM ou com o dinheiro que vou ganhar do processo por danos morais. Se bem que estou precisando mais de dinheiro do que de pontos. Hum...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Segunda guerra mundial

Ninguém nunca havia percebido potencial algum nele além. Não que fosse ruim, mas também não era bom. Era suficiente. Também, ele se esforçava apenas para fugir dos valentões. A explosão e a resposta dos seus músculos eram perfeitas, mas só por alguns metros. Era realmente bom em nada. Sempre quieto no seu canto, passou do jardim infantil para a escola e de lá a a universidade. Não era das melhores faculdades na Alemanha, mas já era bastante para ele. Foi perto de se formar que a sua vida mudou.

Durante as férias, estava voltando para casa quando viu um senhor sendo assaltado. Para azar de um e sorte do outro, ao invés de tentar derrubar o ladrão que vinha na sua direção, fez uma finta e desviou rapidamente. Baixou a cabeça quando viu o ancião caminhar para perto dele, mas, ao invés de ser novamente menosprezado e chamado de covarde, ele foi convidado a acompanhá-lo. Decidiu que acompanhar aquele estranho era o mínimo que poderia fazer para compensar a carteira perdida.

Ao chegar na frente de um galpão abandonado, o desconhecido perguntou se ele já havia treinado boxe. Não ficou claro? Era um covarde, preferia correr a lutar. Aquele senhor era treinador e acreditava que ele tinha potencial, aquele jogo de cintura não era encontrado em qualquer lugar. Pediu um mês para torná-lo mais forte. Fez o jovem prometer que treinaria duro durante pelo menos um mês. Era o mínimo que poderia fazer.

E assim foi feito, durante as três primeiras semanas ele treinou os músculos pela manhã, técnicas e golpes pela tarde e a mente durante a noite. Na última semana, treinou com os outros alunos, ou melhor, foi espancado por eles. Todos os dias ele subia no ringue e fechava a guarda ao soar do gongo. Os conselhos do treinador de nada adiantavam, ele tinha medo. No último dia do mês, após horas apanhando, sem nem mais sentir os socos que acertavam o seu estômago, de olhos fechados, contra-atacou pela primeira vez. O barulho do corpo do adversário batendo no chão ecoou na sala, estavam todos calados com os olhos arregalados. Quando abriu os olhos, viu o sangue escorrendo da sua mão e pela primeira vez sentiu o gosto de vitória.

Apareceu no outro dia e nocateou todos aqueles que tinham lhe acertado. Não por vingança, mas porque gostava daquela sensação. Tornou-se um lutador perfeito. Ao bater do gongo, ele explodia para dentro da guarda do adversário e atacava com um potente cruzado ou direto. Nenhum deles conseguia acompanhar a sua velocidade. Tombaram todos aos seus pés e aí, as vitórias não tinham mais tanta graça. Mesmo a academia não tendo dinheiro, eles conseguiam fundos suficientes para pagar as passagens de ônibus. Logo, começou a frequentar os torneios locais, os regionais e depois de pouco tempo já estava lutando no nacional. Todos queriam enfrentar o novato. Em vão. Mesmo os que conseguiam manter uma guarda bem fechada, se ajoelhavam e rezavam quando encontravam os seus socos. Nada e nem ninguém parecia pará-lo. Ganhou o apelido de Blitzkrieg.

Sua fama alcançou os quatro cantos do mundo e começou a incomodar um certo inglês campeão mundial de boxe. As capas dos jornais e revistas traziam entrevistas com os derrotados, todos diziam que aqueles punhos não podiam ser de um humano. O que gerou um mito sobre ele ser um cyborg. Nenhum exame de dopping encontrou qualquer substância em seu corpo, o que aumentava mais ainda as lendas. Ele não poderia deixar a sua reputação e o seu título serem questionados daquele jeito. Entrou em contato com o criador da besta e marcou uma luta com o cinturão em jogo. Seria a segunda grande disputa que o mundo do boxe presenciaria. Providenciou as passagens e aguardou.

No dia D, a imprensa do mundo inteiro estava lá para o dia em que teria início uma nova era. Quando ambos os lutadores foram chamados ao ringue, o inglês subiu com ar de confiante, mas o alemão não compareceu. Esperaram, esperaram e nada. Ninguém conseguia entrar em contato com ele ou com o seu treinador. Ligaram para o aeroporto em que eles iriam desembarcar, mas a única informação que tinham era a de que eles não haviam embarcado. Receberam uma ligação de um aeroporto em Berlim. A mídia do mundo inteiro entrou em algazarra. A Blitzkrieg havia sido parada.

Sua carreira foi estilhaçada do mesmo jeito que ascendeu. A culpa não fora dele, ele nunca teve muito conhecimento mesmo, nunca soube de muita coisa. Como saberia que os seus ossos eram reforçados por uma liga metálica? Foi derrotado por um detector de metais.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Apenas mais uma de amor (7)

Ela sentiu todo o seu corpo arrepiar com aquela presença. Ele estava atrás dela, mas não a segurava. Estavam suficientemente juntos para que ela escutasse aquela respiração ofegante no ouvido. Fazia tempos que ela não sentia aquele calor gostoso no meio da pernas, dois anos e alguns poucos meses para ser mais exato. Queria gritar e não podia, gemer e não podia, se entregar completamente e não podia. Ai, meu Deus, o que os outros vão pensar.

Ele ali, sem nem se importar, um bruto que pensava nele e apenas ele. Com calma que sou moça de família, isso não se faz. A face ruborizada a entregava, tinha que se controlar, não podia deixar que percebessem. E se estiverem me vendo aqui? O que devem estar pensando? Sempre tão correta, tão pura. Os vizinhos iam falar. Moça sempre tão pura se deliciando com aquele ogro. O sexo que ardia e desejava mandava que ela mexesse o quadris. Seu corpo não ousou desobedecer. Ele era a faísca que estava faltando para acender o seu fogo. Uma vez aceso, esse fogo se tornava insaciável, devorava tudo o que estava perto. Devorou até o último instante.

Não aguentou segurar mais. Apertou a barra do vestido como um doente terminal agarra o último suspiro de vida. Era ela mesma uma doente terminal que encontrava a morte. La petite mort. The little death. A morte da sua dignidade. A morte daquele desejo que antes a consumia. Ahhhh, gemeu gostoso em pensamento. Não podia se demorar mais ali. Era errado, muito errado. Seria errada ela também?

Quando deu o primeiro passo, ouviu uma voz grossa no seu ouvido:

- O prazer foi todo meu.

Suas bochechas ficaram mais vermelhas do que já estavam. Estavam queimando de tanta vergonha. Olhou rapidamente para trás. Eu sei que você gostou, safada. Era isso o que dizia aquele sorrisinho sem-vergonha no canto daquela boca suja. Ela não aguentou. Deu sinal e desceu do ônibus quatro pontos antes do seu.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Apenas mais uma de amor (6)

Olha para baixo quando olho para cima, para um lado quando olho para o outro, para dentro quando olho para fora. O único momento em que olhamos para a mesma direção, é quando olhamos em sentidos opostos.

Deseja doce quando quero azedo, refrigerante quando quero suco, champagne quando quero uísque, água quando quero cerveja. Somente quando enroscamos as nossas línguas, que compartilhamos da mesma bebida.

Dança tango quando danço forró, valsa quando danço lambada, pagode quando danço funk, reggae quando danço sertanejo, axé quando danço rockabilly, samba quando danço salsa. Apenas no meio da areia, iluminados pela lua e pelas estrelas, nossos corpos valsam em um único ritmo.

Escolhe o frio quando escolho calor, primavera quando escolho outono, norte quando escolho sul, avião quando escolho trem, carro quando escolho barco, serra quando escolho praia. É quando chegamos exaustos de viagem que concluímos que o melhor é sexo no escuro.

Diz não quando digo sim, tchau quando digo oi, bom dia quando digo boa noite, mainha quando digo mãe, que dor quando digo graças à Deus, que absurdo quando digo normal, pare quando digo vai, duvido quando digo você vai ver. Olhando bem lá no fundo, congelados por um instante, permanecemos calados, até que surge o sorriso que cresce de ponta à ponta e expressamos o que estava preso: te amo.

Me faz chorar quando quero rir,
rir quando quero chorar.
Correr quando preciso andar,
andar quando preciso correr.
Lutar quando preciso respirar,
respirar quando preciso lutar.

E ainda assim a desejo. Loucura de mais um que caiu nos braços de Afrodite. Diferenças à parte, combinaremos sempre quando concordarmos que somos yin e yang. Só não concordamos ainda sobre quem é quem.

sábado, 9 de outubro de 2010

Primeiro ano

Sabe quando você esquece a data do aniversário de namoro e a sua namorada fica puta de raiva sem nem querer ver a sua cara? Então você vai e tenta fazer de tudo para compensar a besteira que fez. Manda flores, compra ursinhos e chocolates, faz cartas, poemas e até mesmo uma serenata. Pode ter certeza que ela ainda irá passar isso na sua cara algum dia. Mulheres nunca esquecem as coisas que você esqueceu. Eu esqueci a data do aniversário do Embriaguez Verbal.

No dia 04/10/2009, o blog foi criado e teve a sua primeira postagem. Desde esse dia, ele já me deu alegrias e tristezas, mas sempre lembrarei que foi amor à primeira vista. Em um ano, tantas coisas aconteceram, tantas coisas mudaram, mas nós permanecemos aqui juntos. Assumo que, algumas vezes, pensei em jogar tudo pro alto e deixar para lá. Por que seguir com algo que não me traz nada? Eu estava errado sobre isso. Querem ver o porquê?

Durante esse um ano de vida, o EV obteve 528 comentários, divididos em 144 posts, contando com esse. Isso dá uma média de 3,66 comentários por post. Se existem tantos comentários, é porque pessoas vieram até aqui ler. Foram 7923 pessoas até agora, divididas em 371 dias de acesso, o que representa uma média de 21,35 visitas diárias. Sendo o dia mais visitado o dia 08/08/2010, graças ao post que eu fiz em homenagem ao meu pai. Nesse dia, foram mais de 100 acessos em menos de uma hora. Essa gente toda veio não só de todo o Brasil, mas também de todos os outros continentes, com exceção da Oceania. Acho que eles não tem internet por lá.

Sem contar no quanto eu lucrei. Durante todo esse tempo, já consegui lucrar R$0,00 reais. Nunca ganhei um centavo sequer. O meu pagamento é ver que vocês comentaram, é ver que tem mais de dois visitantes online, ver que vocês chegaram até aqui para ler o que eu escrevi. Obrigado por todo o carinho de vocês. Que venha mais um ano!

Tempos de escola (2)

Apesar de não gostar da escola que estudei a maior parte da minha vida, sempre gostei de ir pra lá todos os dias. Meus melhores amigos e boa parte dos meus amigos de infância, estudaram e cresceram comigo por lá. Estivemos juntos praticamente o ensino fundamental e médio inteiros. Alguns tiveram a sorte de abandonar o barco mais cedo, outros não. Permaneci até o final do segundo ano do ensino médio. Até hoje ainda bato no peito para dizer que não fui expulso. Saí porque fui injustiçado, queriam me proibir de assistir as aulas, vê se pode.

Se o Liceu desse prêmios ao final de cada ano, dois deles seriam meus: maior frequência e maior tempo na sala da diretora. No meu discurso, no dia da entrega, agradeceria a minha mãe por nunca me deixar faltar e aos meus colegas por terem ido comigo até o purgatório.

Todos os dias, fizesse sol ou chuva, tempestade de areia, neve ou raios, eu ia para a escola. Se minha mãe não pudesse me levar, ia de carona, se não tivesse carona, ia caminhando. Não importava como, tinha que ir. Naquela época, o moleque espirrava em casa e a mãe já mandava fazer um suco de laranja e deixava ele em casa vendo desenho debaixo das cobertas. Aqui em casa era completamente diferente.

Minha mãe é médica, então, pra ela, sempre poderia estar pior. Quando ficava com febre, corpo mole e ânsia de vômito, ela vinha e me perguntava se estava bem. Não importava a minha resposta, ela sempre dizia que se eu conseguia falar é porque dava pra ir pra escola. Mesmo doente tinha que estar lá sorrindo e distribuindo simpatia pela manhã, o máximo que eu ganhava era um comprimido pra tomar caso piorasse e o direito de ligar pra ela caso o comprimido não adiantasse. O pior de tudo era que se você tivesse que ligar para sua mãe e precisasse de algum remédio enquanto esperava por ela, o colégio não tinha. Tudo que eles ofereciam era chá.

Não importava a doença ou os sintomas que você apresentava, a cura para todos os seus males era chá. Caiu no chão e cortou a perna? Chá de boldo. Tá com febre? Chá de camomila. Dor de cabeça? Erva cidreira. Tá triste? Capim santo. Nervoso? Hortelã. Dor de corno? Erva doce. Só tinha isso, a caixa de primeiros socorros era enorme, mas dentro só tinha uma tesoura e um pacote de gazes, nem esparadrapo tinha. Era como se fosse um hospital público, mas sem as filas. Descobri isso da pior maneira possível.

Uma vez, saí da sala porque estava com uma puta vontade de vomitar e fui até a secretaria. A secretária chamou uma das inspetoras que resolveu fazer um chá para mim. Nunca gostei de tomar essa porcaria, mas ela me disse que ele faria com que a vontade de vomitar passasse na hora. Ela estava certa. Assim que tomei, saí correndo para o banheiro mais próximo e vomitei tudo na pia.

Depois de ter vomitado, lembrei do dia em que bati a cabeça e abri o supercílio quando era primeira série. Quando cheguei na secretaria, com metade do rosto coberto de sangue, a secretária já veio toda agoniada:

- Meu Deus, que foi isso?

- Ah, bati a cabeça...

- Vije Maria, a coisa tá feia. Melhor você olhar pra cima.

- Assim?

- É.

- Vai melhorar?

- Não, mas vai melar menos agora.

Talvez, se tivessem me oferecido um chá de canela, eu não tivesse tomado tanto ponto. Se bem que, pro tamanho do corte, iam precisar de algo mais forte: chá de carqueja com biscoitos.

Tempos de escola

Quando era pequeno, me disseram que a escola é a nossa segunda casa. Se é na cozinha que a gente fica com dor de barriga e solta uns peidinhos e no banheiro que tudo termina em merda, então, a sala de aula era a minha cozinha e as salas da coordenadora e da diretora eram os meus banheiros. Afinal, por mais que a coisa começasse a feder na sala, só dava merda quando passava por aquelas portas. Tinha dias pela manhã que eu já estava lá esperando, antes mesmo delas abrirem a sala. No primeiro dia, foi um susto, nos outros, foi uma ironia atrás da outra. Que bela surpresa você por aqui. Há quanto tempo, sabia que já estávamos com saudade? A verdade é que elas tinham medo de mim. Sabiam que a qualquer hora eu podia entrar na justiça e tomar a sala delas por usocapião.

A melhor coisa do mundo era ir para lá, significava que eu havia vencido e o professor perdido. Sabe quando você era pequeno e você brigava com alguém na rua e a pessoa saia correndo gritando que ia contar para a mãe? Você imaginava a platéia de aplaudindo de pé e o juiz segurando a sua mão lá no alto. Era a mesma sensação. Pena que a minha versão era sempre a errada. Ninguém nunca acreditava em mim, mas eu não me importava, lembrava da história e sorria pelo canto da boca. Ninguém gosta de um sorriso pelo canto da boca quando está dando uma bronca. Significa que, por mais que a pena seja dura, o crime compensou. E sempre compensava pra mim.

O bom de tomar uma advertência era a oportunidade de ir para casa mais cedo. Era como se o moleque que você havia batido fosse chamar a mãe dele e quando ela chegasse você batesse nela também e ela saisse correndo dizendo que ia chamar a sua mãe. Você vencia novamente, mas sabia que quando chegasse em casa ia tomar uma baita duma surra. Só que comigo era diferente. Meu pai foi pior do que eu, ele me entendia, sabia que a tradição havia sido passada adiante pelo sangue. Tanto é que, quando ligavam para ele, para dizer que eu estava atrapalhando o andamento da aula, ele dizia que era pra me deixarem em paz porque eles estavam fazendo a mesma coisa com o trabalho dele e nem por isso ele reclamava.

Quem ia lá resolver os problemas da escola era a minha mãe. Toda vez que ela voltava de lá, ela me perguntava se eu achava que estava certo. Bom, errado é que eu não estava. Da única vez em que eu fui suspenso por pular o muro, ela me levou para almoçar fora para que a gente pudesse conversar sobre o assunto. Foi nesse dia que ela me disse que nunca ia brigar comigo pelo que eu fazia na escola porque eu estava sob o comando dos meus genes. A única coisa que ela me disse é que iria na escola pegar todas as advertências que eu já tinha tomado, xerocá-las e fazer um mural para colocar no meu quarto. Bem que eu queria ter ganho esse mural, mas tudo bem. No outro dia, a diretora me perguntou o que eu havia ganho com tudo aquilo e eu apenas disse a verdade: um almoço e três dias de férias.

Nesse mesmo dia do almoço, meu pai me deu um conselho que resolvi seguir para o resto da vida: faça arte, mas nunca assine a obra, fica mais famosa a obra que o artista é desconhecido porque fica todo mundo querendo saber quem foi o gênio criativo. Ele estava certo, existem muitos mistérios sem solução no Liceu. Mistérios os quais eu prefiro que nunca sejam solucionados.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Einstein e Deus

Sou cristão por batismo e agnóstico por opção. Não acredito em "Deus", mas seria prepotência acreditar que nada depende de uma força maior. O universo é grande demais e nós pequenos demais. Acredito que exista um velho barbudinho com uma batuta regendo tudo o que acontece em todos os cantos do universo. Isso não quer dizer que ele é o responsável pelas coisas ruins ou pelas coisas boas que nos acontecem. Ele rege a orquestra, muda ritmos e tons, mas cada um dança do jeito que bem entender. É o nosso livre arbítrio.

Muita gente não consegue entender o fato deu acreditar em "Deus" sem acreditar numa religião. É uma questão de fé. Muita fé no que acredito. Ninguém nunca conseguiu me convencer de que tal religião é única e absoluta e que somente ela pode me dar todas as respostas. Porém, muitas vezes me convenci de que, talvez, Ele não existisse.

Crianças na rua pedindo esmolas ou sendo maltratadas pelos próprios pais. Seres imaculados que tem suas purezas manchadas pelo mal do mundo. Pessoas doentes sem nenhuma esperança de melhorar. Assassinatos, sequestros e torturas cada vez mais diabólicos. O mundo está se tornando maligno. Como acreditar em alguém que se diz criador e não cuida das criaturas? Essa pergunta já deve ter passado na cabeça de bilhões de pessoas no mundo. Todos aqueles que sofreram algum mal, devem ter perguntado a mesma coisa ao Criador. Onde você estava quando precisei?

Quando Einstein era um jovem estudante, ele surpreendeu um professor com a sua resposta:


Deus não criou o mal. Ele nos deu a opção de acreditar no amor ou no ódio, no bem ou no mal. A culpa dos males do mundo é do próprio ser humano. Aquele mesmo ser humano que acredita que ter fé é ter uma religião, o mesmo que acredita que tudo é porque Deus quis ou até mesmo que ciência e fé não andam de mãos dadas. Apenas uma pequena parte do nosso dia é determinado pela mudança de ritmos ou tons em que a orquestra está tocando, o restante, depende somente de como reagiremos a essas mudanças. A sinfonia será tocada por toda a eternidade e nós, continuaremos a fazer as nossas próprias coreografias.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Na vida de um namorado

Inspirado na obra original de Flavio Meirelles "Na vida de um homem".

Quando você convida uma mulher para sair e vai pegá-la em casa, duas coisas podem acontecer: você pode esperar duas horas do lado de fora ou duas horas do lado de dentro.

Se você esperar do lado de fora, tudo bem, mas se você esperar do lado de dentro, duas coisas podem acontecer: ela pode te deixar esperando sozinho ou fazendo compainha enquanto ela se arruma.

Se ela te deixar esperando sozinho, tudo bem, mas se ela te fizer compainha enquanto se troca, duas coisas podem acontecer: ela pode apenas conversar ou pedir opiniões sobre a roupa e a maquiagem.

Se ela apenas conversar, tudo bem, mas se ela te pedir opiniões, duas coisas podem acontecer: a pergunta pode ser retórica ou não.

Se for retórica, tudo bem, mas se não, duas coisas podem acontecer: você pode mentir ou ser sincero.

Se mentir, tudo bem, mas se não, duas coisas podem acontecer: ela pode se irritar e negar sexo mais tarde ou acabar e arranjar outro.

Se ela se irritar e negar sexo, tudo bem, mas se ela acabar e arranjar outro, duas coisas podem acontecer: ele pode esperar duas horas do lado de fora ou duas horas do lado de dentro.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Apenas mais uma de amor (5)

Ela esperou que eu virasse para me acertar a nuca com o secador de cabelo que estava em sua mão. Depois disso, minha visão escureceu.

Quando abri os olhos, a minha visão ainda estava um pouco turva. Tentei coçar os olhos, mas as minhas mãos estavam amarradas, bem como os meus pés. Estava atado à cadeira da cozinha que, por sua vez, não estava atada à mesa. Ela estava lá embaixo, no porão, e ambos estávamos debaixo de uma fraca luz. Aos poucos, suas pernas começaram a surgir da escuridão. Quando apareceu por completo, segurava um alicate na mão esquerda e um soco inglês na direita. Tentei argumentar e nada. Ela veio na minha direção rebolando, como quem não quisesse nada, e me acertou um direito no queixo. Preferia ter desmaiado com o primeiro.

Quebrou-me dois dentes com o primeiro, mais quatro com o segundo, não me deu nem tempo para cuspir os pedaços. Com o terceiro, ela terminou de quebrar os dentes da frente. Pelo menos o sangue que estava me deixando sufocado, caiu todo na camisa. Me perdoa, me solta agora que eu esqueço tudo isso. Ela realmente me soltou, mas não sem antes quebrar os meus joelhos. Cai no chão assim que ela cortou as cordas.

Ela me rodeou como um gato a rodear um rato. Um gato que sabia que a presa já estava com as horas contadas. Parou perto dos meus pés e se ajoelhou. Acaricou-os por um instante e arrancou a primeira unha. A partir da sétima, o meu corpo não sentiu mais nada. Ela se levantou e sentou sobre o meu peito. Tentei olhar para os seus olhos e arrancar um pouco de clemência. A única coisa que ela me deu foi um soco que deslocou o meu nariz. Sentou sobre o meu peito e arrancou as unhas das minhas mãos. A voz não saía mais da minha garganta. A forma que ela apertou o meu pescoço para abafar os meus gritos, contribuiu, mas não foi por isso que fiquei sem voz. Simplesmente não tinha mais forças. Ela levantou-se e afastou as minhas pernas com os pés. Voltou para a escuridão e voltou com um taco de golfe. Apontou-o para os meus testículos e o ergueu acima da cabeça. Desceu com toda a sua força e eu apaguei.

*

Míseros quinze segundos haviam se passado entre a primeira piscada e a segunda. Meu olhar ainda estava vago e fixo no mesmo ponto: sua cintura. Repetiu a pergunta:

- E então, você acha que estou mais gorda ou não? - dessa vez, com uma leve pitada de raiva adicionada.

- Você deve estar vendo coisas, meu amor. Até estou te achando mais magra. Continua com aquele mesmo corpinho de vinte.

Verdade, menti, mas escapei de conhecer o Diabo de salto alto.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Como decidir em quem votar

Se algum familiar seu é político, se você será beneficiado por algum candidato, se você é socialista, ou se já vendeu o seu voto, esse post não serve de nada para você, mas se você faz parte da grande maioria de brasileiros que ainda está pensando em quem irá te foder menos durante os próximos quatro anos, ele foi feito para você.

Uma coisa que percebi durante essa época de campanha eleitoral, é que é muito difícil ter certeza do seu voto. Você não sabe em quem acreditar, nem quem pode ou não fazer algo pelo país. Um lado político acusa o outro para logo depois ser envolvido em algum escândalo. Então, como tomar uma decisão? Cheguei a seguinte conclusão: não escolha quem você quer que te represente, mas sim quem você não quer ver por lá. Se você conseguir eliminar todos os que você não quer, o resto você pode escolher por sorteio. Ou no palitinho, quem sabe.

E como excluir esses que você não quer? Muito fácil, comece pelos que já se envolveram com escândalos. Depois passe para os que te acordam com o carro de som no Domingo pela manhã, ninguém merece acordar de ressaca com uma música só com o refrão. Em seguida, parta para os que atrapalham o trânsito, seja com carreatas, comícios ou carros de som lentos. Não esqueça de eliminar os atores decadentes, os que ganhavam dinheiro por causa do corpo e os que batem na mulher, marido ou filhos. Lembre também dos que tem ideias e pensamentos diferentes dos seus. Por último, esqueça todos aqueles que pretendem tirar o que você conquistou através do seu trabalho para dar àqueles que só fazem reclamar da situação em que se encontram.

Pronto, agora você tem uma pequena lista de candidatos que podem merecer o seu voto. Como? Não sobrou nenhum? Certeza? Já conferiu? Mas que pena, viu? Faz o seguinte então, vota nulo e mais sorte pra você nas próximas eleições. Pra você e pro resto do país.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Viva la revolución

A faculdade é um lugar intrigante. Você encontra pessoas de todos os tipos e das mais diversas tribos. É inevitável. Você pode escolher em que horário você vai pegar tal matéria, mas não pode escolher quem vai dividir a sala com você. Dessa forma, acaba convivendo e conhecendo pessoas que você nunca imaginou conhecer. Hoje, conheci inúmeros socialistas. Não por vontade própria.

Após ter almoçado, quando voltava para a UFS, recebi um folheto do PSOL. Partido esse que nunca levei a sério e continuei sem levar. Ao lado deles, três belíssimas mulheres entregavam panfletos do show de amanhã. Peguei ambos e joguei-os na lixeira mais próxima que encontrei. Ela já estava praticamente lotada com os folhetos do partido. Segui em frente e fui para a sala, a tarde estava apenas começando.

Depois de três aulas que, para ser bem sincero, custaram a passar, segui para a didática um para assistir a última aula e ir para casa. Ao chegar na sala, dei de cara com dois alunos carregando uma cadeira cada. Dei passagem para os dois e entrei numa sala com apenas metade das cadeiras. Assim que entramos, entrou outro cara perguntando se ali iria ter aula. Respondi que sim e disse que iríamos precisar das cadeiras. Ele apenas saiu e foi pegar cadeiras de outro lugar. Nem pediu desculpas pelas que já tinha levado. No peito, estava colado um adesivo que dizia em letras maiúsculas: PLÍNIO 50.

Sai da sala e fui atrás do cara. Ele estava reunido com outros estudantes e alguns professores do lado de fora da didática. No gramado, estavam duas mesas e, ao redor delas, as cadeiras que haviam tirado da minha sala. Pouco a pouco, as pessoas foram se acomodando. Pouco depois, uma mulher tomou o microfone e teve início a reunião:

- Companheiros, peço àqueles que ainda não assinaram a lista aqui presente para que se dirijam aqui à mesa para assiná-la. Bom, hoje falaremos sobre os problemas da faculdade. Problemas que vocês já estão acostumados como por exemplo: falta de professores nas salas, precariedade das instalações...

Da porta da didática, eu retruquei:

- E na minha sala que tem professor, tem quadro, tem giz, tem aluno e não tem cadeira porque vocês levaram, faz como?

Graças à Deus, eles não escutaram.

Foi aí que eu finalmente entendi a essência do socialismo. Não tinha maneira mais prática de entender como ele funciona. É óbvio que tinham cadeiras a mais na sala, mas eles não sabiam quantas, portanto, não poderiam pegar. Pegaram mesmo assim. As cadeiras que eram nossas, naquele momento, foram tomadas e repartidas entre eles. Para, logo em seguida, eles criticarem a falta de condições, material e professor na sala de aula. Sentados no que antes era nosso. E ainda acham que algum de nós iria votar neles. Vamos todo mundo voltar pra sala estudar que é o melhor que fazem?

No fim das contas, atrapalharam a aula na metade para devolver parte das cadeiras. E viva la revolución!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cotidiano

- Você sabia que tem horas que eu ligo aqui pra casa? Até pra levantar essa bunda da cadeira e ir atender o telefone você tem preguiça. Sabia que eu precisava muito falar com você?

- Sabia, mas não atendi porque não era pra mim.

- Como não era pra você? Estava louca atrás de você. Te liguei milhões de vezes e depois te mandei inúmeras mensagens. A merda do celular ta aí do lado e você nem se deu ao incômodo de esticar o braço e ver que era eu. Sabia que eu realmente precisava falar com você?

- Sabia, mas não atendi porque não era pra mim.

- Claro que era pra você! Precisava que você fosse pegar os seus irmãos no colégio. Prometi que ia buscá-los, mas acabei me atrasando. Os bichinhos já estavam morrendo de fome.

- Quer dizer que eu trabalho e estudo a semana inteira e, no horário do almoço, que é o único momento que eu tenho pra relaxar, você me ligou para que eu fosse cumprir a promessa que você fez?

- Exatamente.

- Tá vendo que não era pra mim?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Vida e morte de um escritor

Era um escritor em início de carreira. Era. Morreu alguns dias após ter lançado o seu primeiro livro.

Escrevera um romance. Uma comédia romântica para ser mais exato. As pessoas sempre querem mais comédias românticas. Mesmo se o autor mudar apenas o título e o nome dos personagens, elas ainda assim comprariam o novo livro. Foram meses trabalhando duro. Observou os casais de mãos dadas nas ruas. Prestou atenção nas conversas, na forma em que discutiam e logo em seguida faziam as pazes. Bastaria o namorado olhar para outro rabo de saia e a história se repetiria. Só tenho olhos pra você, meu anjo, nunca olharia para ela quando posso olhar para você aqui. Ela acreditaria e ele agradeceria pelo amor ser cego.

Seu editor reclamou de alguns capítulos, elogiou outros. Mudou apenas o que quis. Era seu livro. Trocaria de editora, mas não abriria mão da sua liberdade de expressão e das suas ideias. Esse foi o seu primeiro erro. Por fim, o livro foi aceito. Era um bom livro, pensava o editor. Era um best-seller, pensava ele. Esse foi o seu segundo e último erro.

Não tinha inimigos, mas isso não era necessário. Alguém tem que morrer para que alguém possa continuar a viver. Ele foi o escolhido. O assassino fora contratado por um jornal. Tinha algo em comum com a vítima, esse também seria o seu primeiro trabalho. Precisava conhecer mais sobre o alvo. Recebeu das mãos do contratante o livro que o coitado levara meses para terminar e leu para entendê-lo melhor. Optou por usar armamento pesado e atirar no ponto fraco.

Dois dias depois, como fez todas as manhãs dos últimos meses, o escritor saiu de casa cheio de si. Tinha uma tarde de autógrafos marcada para aquele mesmo dia. Primeiro faria um discurso, agradeceria todas as pessoas que o apoiara do livro, mesmo sendo poucas, depois um coffe break e, por fim, distribuiria algumas cópias autografadas e autografaria os demais. Jovens e adultos estariam lá para prestigiá-lo. Bela obra, tenho certeza que ficarei emocionada na mesma medida que me divertirei com os personagens. Faltava agora ter um filho e plantar uma árvore. Não necessariamente nessa ordem. Mal sabia ele que a morte o esperava na esquina.

O jornaleiro já o aguardava com o jornal na mão, mas, pela primeira vez em muitos anos, ele entregou o jornal e virou as costas. Não que isso tivesse chamado sua atenção. Ele estava muito animado para prestar atenção em qualquer outra coisa que não fizesse parte do seu mundinho particular. Abriu o jornal ali mesmo e foi direto para parte que o interessava. Poucos segundos depois, estava caido no chão. Foi levado por uma ambulância até o hospital. O médico o examinou, mas não tinha dúvidas, o escritor estava morto. Um único disparo. Um tiro de crítica negativa à queima-roupa no ego foi a causa do óbito. Nunca mais voltaria a escrever.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Estagiar é...

Sei que ando meio sumido, mas, dessa vez, tenho uma explicação boa. Boa mesmo. Além da faculdade, que toma a minha tarde e noite, agora estou estagiando pelas manhãs. Pra completar, meu computador deu problema e fiquei sem internet. Poderia até postar pelo notebook ou da casa de alguém, como estou fazendo agora. O problema maior é o estágio mesmo.

Não dá pra expressar a alegria de conseguir o primeiro estágio na sua área. Logo no primeiro dia, você fica super feliz e quer fazer tudo que te mandam fazer e mais um pouco. Chega em casa e conta pra todo mundo as besteiras que você fez. Pegar um copo d'água parece ser uma tarefa que só você poderia ter feito dentro da empresa, você é a solução para todos os problemas da empresa. A partir do segundo, você percebe que você realmente é uma pessoa única lá dentro. Única que aceitaria fazer tudo o que os outros não querem por um salário mínimo... mínimo necessário para não ser considerado trabalho escravo.

No primeiro dia, descobri que o projeto não estava de acordo com o que havia sido construído. Me senti o próprio Niemeyer. No segundo, fui encarregado de resolver o problema que havia descoberto e me arrependi profundamente de ter sido útil. Hoje, no terceiro dia, aprendi que o estagiário só deve identificar um problema quando já tiver uma solução, pois, sempre que alguém acha a solução pro meu problema, eu é que vou lá resolver. E isso porque fico três das quatro horas sozinho.

Apesar dos apesares, estagiar faz bem. Se aprende muita coisa, principalmente, coisas que não dão pra aprender em uma sala de aula. Você conhece pessoas que serão importantes na sua futura vida profissional. Do seu futuro empregado ao seu futuro chefe, passando pelas pessoas que você terá que puxar o saco e pelas que você vai ter que demitir, boa parte deles você já encontrará agora. Isso se você durar até o final do contrato.

Ser estagiário é mais ou menos isso:



Ser estagiário é ótimo, mas ter um, é melhor ainda.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vários motivos para transferir seu título

É ano de eleição, e tenho certeza de que vocês não vão querer perder a oportunidade de votar num dos candidatos que abaixo listarei:

Humoristas:

1 - Tiririca: Direto de Itapipoca no Ceará, com ensino fundamental incompleto e um arsenal de piadas.

2 - Batoré: Não lembra? Mãos e pernas tortas, a praça é nossa...Esse mesmo.

3 - Pedro Manso: Aquele que imita o Faustão no show do Tom.

4 - Sérgio Malandro: Imaginem aquilo em Brasília. Glu glu glu

Jogadores:

5 - Romário: Pelo menos ele tem ensino superior completo. (E daí?)

6 - Vampeta: Ele não tem coligação  #fikdik

7 - Marcelinho Carioca: Da coligação "Preste atenção São Paulo". Irônico, não?

8 - Túlio Maravilha:  Nós gostamos de você?

Cantores:

9 - Kiko: Espera porque ele não tá sozinho.

10 - Leandro: O irmão do Kiko. É isso mesmo, o KL(B ficou de fora).

11 - Tati Quebra-barraco: Dako é bom!

12 - Netinho de Paula: Bom, ele já apresentou um programa, né!??!?!!?

13 - Gretchen: Eu juro que nem sabia se era aqui mesmo que deveria colocá-la. Conga la conga.

14 - Rick: O Renner deve ser o acessor.

15 - Reginaldo Rossi: Garçom, aqui no planalto...

Outros:

16 - Ronaldo Esper: Não foi ele quem levou vasos de algum lugar aí?

17 - Jean: Ele ganhou o BBB, então nunca se sabe.

18 - Bambam: Outro que ganhou o BBB. Dinheiro, quanto mais se tem mais se quer.

19 - Mulher Pêra: Essa eu não consigo nem comentar.

20 - Mulher Melão: Porque uma fruta só é pouco.



E ainda dizem que a juventude é quem destrói a nação.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O que não dizer à sua mãe sobre a aula de Biologia

Era apenas mais uma aula de biologia do 3º ano. O assunto estudado, genética, falava da cor dos olhos, cabelo, cor da pele e tipo sanguíneo. Tudo estava muito bem. Os alunos entendiam perfeitamente o que era ensinado:

Mãe A, Pai A – Filho A
Mãe A, Pai B – Filho A, B ou AB
Mãe AB, Pai O – Filho A, B, AB, O
Mãe B, Pai B – Filho B

...

Eis que surge uma mão no ar, uma dúvida cruel a ser revelada para toda a sala:

- Professora, mas meu pai é B, minha mãe é B e eu sou AB.

A turma toda olha a garota que fez aquela pergunta capciosa. A professora para e já nega com a cabeça. Em todos os anos de profissão, todas as aulas e estudos, aquilo não era possível. Surge então o sorriso no rosto da professora.

- Tem certeza? Um dos dois deve ser AB ou A pelo menos.
- Não...os dois são B! Minha irmã é B.

A essa altura, já se ouviam sussurros pela sala, os alunos já comentavam qual seria a solução para o mistério.
A professora, que devia supostamente ser aquela a acalmar a garota e dizer que havia um problema ou um erro nas informações, faz o contrário e aumenta o sorriso zombeteiro.

- Minha queridinha...então, dos dois, um: Ou você não é filha de sua mãe, ou de seu pai. Procure saber por aí.

A sala então estoura em risadas. Bons amigos nós arranjamos na escola, não é mesmo? Aqueles filhos da mãe que não devem saber nem de que buraco saíram, rindo da pobre menina que, sem argumentos, vai ler o assunto procurando qualquer brecha que explicasse a situação.
Mas para a professora, ainda não era o bastante:

- Já vi um caso parecido com esse. A pessoa descobriu que era adotada depois de uma aula dessas. Menina menina, vá fazer esse exame de sangue de novo pra ter certeza. Ou olhe direitinho se você parece com seus pais.

Mais risadas de toda a sala.

- Eu sou a cópia da minha mãe. E tem quem diga que pareço bastante com meu pai. Mas vou procurar saber direito o tipo sanguíneo deles. ¬¬

...

No outro dia, em casa, a menina está na porta conversando com um amigo. Falavam banalidades do dia-a-dia. Eis que chega a mãe para falar com os dois. Conversa vai, conversa vem:

- Mãe, minha professora de biologia disse que eu não sou sua filha ou de meu pai.
- Como é? (E vejam que aqui – pela expressão da mãe -, a menina ainda teve chance de mudar de assunto)
- Estávamos tendo aula sobre grupos sanguíneos, daí eu falei que você é B, meu pai é B e eu sou AB. Conclusão...não sou filha de um dos dois.

*
E aqui, para um momento o relato para falar sobre o sentimento que se apoderou da mãe naquele instante.
RAIVA - é um sentimento de protesto, insegurança, timidez ou frustração, contra alguém ou alguma coisa, que se exterioriza quando o ego sente-se ferido ou ameaçado.
Consequências da raiva: Violência verbal, violência física, ódio, comportamento agressivo.
*
Foi aí que a menina percebeu o erro cometido. O amigo dela, a essa altura já tinha feito mil e um sinais pra que ela se calasse. Agora ele se resumia a uma mão na testa e cabeça baixa, prevendo o que vinha pela frente.
A mãe, que aparentemente esqueceu-se do lugar em que estavam, ou na verdade não se importou com isso (a raiva faz essas coisas), cruzou os braços, respirou fundo, e:

- Aquela vagab¨*&*&#@!@#!#@#!# safada tá pensando o quê? Uma professorazinha qualquer falando uma coisa dessas. Quem é? Me diga o nome dela que segunda eu vou na sua escola pra ela dizer na minha cara que você não é minha filha.

E como se desgraça pouca fosse besteira:

- Mas mãe, se você tem sangue B, meu pai tem sangue B, minha irmã tem sangue B e eu AB, tem A onde não devia.
- Eu quero saber porra nenhuma de A, AB ou o caralho que for? Eu vou segunda na sua escola falar com essa mulher e ela vai me dizer direitinho essa história. Tá pensando o que, rapaz. Ela é besta.

...

Segunda ela não foi à escola. Já devia ter esquecido. A menina procurou esquecer também, embora essa lembrança ainda a acompanhe até hoje. A lembrança e a dúvida: B, AB, A? Na verdade, anos se passaram e ela sequer procurou saber direito o tipo sanguíneo dos pais.

Afinal, até que ponto ia valer a pena saber a verdade?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Aqui vamos nós

Acabaram-se as férias e toda a folga que eu tinha. Essa historinha de dormir de manhã cedo e acordar de tarde, também já era. As aulas na faculdade voltaram. Com elas, vem todas as obrigações que um período pode trazer e toda a filha da putice do mundo distribuida entre trinta e dois créditos semanais. Período entra, período sai, mas só o aluno é que é fodido.

Por que todo professor na faculdade acha que apenas a matéria que ele leciona é vital para o curso e que nós devemos estudar e viver única e exclusivamente para ela? Ele chega no primeiro dia de aula, passa quatro livros como bibliografia e diz que o ideal era lermos todos eles. Custa escolher apenas um? E ainda tem a cara de pau de dizer que "o livro de Fulano é insuficiente". Pelo menos o autor deve ter pensado a mesma coisa sobre o livro de Cicrano e resolveu escrever algo melhor ao invés de apenas criticar.

Universidade é um lugar no qual você não pode ter esperança de que as coisas vão melhorar porque elas não melhoram. Muito pelo contrário, a felicidade dos professores começa a ser inversamente proporcional à felicidade dos alunos. Alguns deles já perceberam isso e se adiantaram. A maioria não sai mais pra beber ou jogar bola com alunos que estão cursando alguma matéria com eles. No dia que eles toparem uma pelada, prometo que apareço. Podem anotar.

O pior de tudo é que esse foi apenas o meu primeiro dia de aula do período e já consegui voltar pra casa sem querer ir amanhã. Pior ainda foi minha mãe ter me perguntado como tinha sido o primeiro dia:

- Mó saco.
- Oxente, meu filho, mas você não gosta não?
- De que?
- De estudar, é claro.
- Minha mããeee, acooooorde. Ninguém gosta de estudar não.
- Na minha época, eu gostava.

Ainda bem que o espermatozóide do meu pai era machista e não deixou que o ovócito dela tomasse as decisões mais importantes. Obrigado, querida genética.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Obscuro 2 - As coisas como realmente são!

Ele não estava lá quando me mudei.

Meus pais me expulsaram de casa quando eu completei 18 anos. Por mim eu ficava lá pra sempre. Alguém pra lavar minhas roupas e fazer minha comida. Tudo pronto, arrumado e bem feito. Mas meus pais me expulsaram. Saí do paraíso pra me virar no inferno.

Arranjei um emprego como frentista num posto de gasolina, num bairro distante de casa. O emprego era uma droga e eu, obrigado a passar noites acordado, mal tinha tempo pra estudar. Mas tinha um dinheiro no final do mês que garantia o sustento. Aluguei um apartamentozinho de um quarto e que ficava em cima de uma padaria, a poucas ruas do trabalho. O lugar era um lixo: cheio de mofo, apertado, e a noite o silêncio era incômodo. No quarto tinha um armário velho, com duas prateleiras que usei pra guardar as poucas tralhas que tinha. Pensei em comprar um armário novo, mas não tinha condições. Achei melhor usar aquele velho. Estava lascado.

A primeira vez que ouvi aquele barulho estava vomitando no banheiro, bêbado. Era um barulho chatinho, como se estivesse destruindo alguma coisa. No primeiro momento não dei muita atenção, pois achei que era o efeito do álcool em meu cérebro. A segunda vez foi um domingo de intensa ressaca. Apenas bebi muita água e tentei não pensar naquele barulho, afinal, agora tinha algo que quebrasse o silêncio em casa. Mas na terceira vez, não tinha álcool ou ressaca, o barulho parecia realmente estar destruindo alguma coisa. Comecei a me preocupar. Quais seriam os efeitos do cheiro de gasolina no cérebro humano?

Larguei o emprego, briguei com o dono do bar, até com o senhorio. Tinha que culpar alguém ou alguma coisa. Mas nada disso deu certo. O barulho aumentava a cada dia. Mudei de bar e bebi mais. Procurei em casa, quebrei a cama achando que era ela, joguei vinagre pelo quarto, e nada. Sobraram-me duas opções: Ou a cachaça estava me matando, ou o barulho vinha do armário infeliz.

Dobrei a camisa, peguei uma marreta e fui em direção ao armário. Chegando perto, minhas pernas tremeram e o suor desceu pela testa. Quando olhei mais embaixo, vi um buraco na porta. Ele não estava lá quando me mudei. Abri a porta decidido. Apontei a marreta, à procura do causador do barulho. Foi quando ele correu de um lado pro outro, sorrindo de mim. Então, a verdade me atingiu sem piedade: o filho da mãe era maior do que pensava e eu morria de medo dele.

Larguei a marreta, saí correndo do apartamento e implorei pra voltar pra casa.

O rato ficou lá, ganhou o terreno. Hoje eu lavo pratos, ajudo no almoço e tenho dois empregos, além da faculdade à noite. Ele não estava lá quando me mudei, mas ficou quando eu saí. Quem diria que alguém do meu tamanho fugiria de um roedor desgraçado? 


P.s.: Texto original em - http://embriaguezverbal.blogspot.com/2010/04/obscuro.html

domingo, 8 de agosto de 2010

Herói

De que é feito um homem?

Homens não são feitos de barbas por fazer, tímidos bigodes ou peitos cabeludos.
Não são feitos de corpos malhados e muito menos de barrigas de cerveja.
Não são feitos pelo tamanho das calças e nem pelo seu próprio.
Homens nunca serão feitos de aparência. Nunca foram.
Por mais que não pareça, também não são de ferro.

Se não de ferro, de que é feito um homem?

Não é feito de um aglomerado de células ou da valsa dos elementos químicos.
Senhas e números não fazem um homem, muito menos um hetero casal de letras.
Homens não nascem homens, se tornam.
Não são títulos, rótulos ou estereótipos, homens se fazem homem, não deixam que os outros o façam.
Você não será homem só porque enche a cara com os amigos ou fuma. Álcool e fumaça não constroem um homem.
Agora que chegamos aqui, se arrepende de algo? Não se arrependa. Homens não são feitos de arrependimento.

Ainda não me respondeu, de que é feito um homem?

Homens são feitos de derrotas vitoriosas e superação.
São feitos de sonhos, ideais e lutas.
Feitos de desejos e humanidade.
São feitos de corpo, alma e emoções.
São feitos de/por mulheres. Não qualquer mulhers, mas sim a mulher. Por elas, são capazes de tudo. Com elas e com as suas crias, são completos.
São feitos de vontade. Vontade de ter e de ser, de levantar a cabeça e continuar seguindo em frente.
São feitos de orgulho, portanto, não se preocupe em errar, apenas tenha orgulho de pelo menos ter tentado.
Homens são feitos de tempo. Não só feitos, mas também aliados.
Feitos de antíteses e metáforas, rimas e versos livres.
Se após isso, você se sentir homem, esqueça. Homens nunca saberão que são homens. Nunca se sentirão completos, mas também não deixarão de tentar ser.

Mas nem isso é suficiente para ser homem.
Um homem é feito pelo brilho dos olhos de quem o vê.
Ele é criado na mente de alguém.
É Invejado por uns e amado por outros.
Esse homem serve de inspiração.
A minha inspiração.
O meu pai.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Psicotapa

Na semana passada, li algo sobre a nova lei que proíbe castigos físicos de qualquer tipo, inclusive, o psicotapa. Quando terminei de ler, parei para lembrar da minha infância. Jamais apanhei, mas vivia com medo de levar uns tapas no bumbum. Não que não merecesse, pois merecia. Aprontei tudo que tive direito e mais um pouco. Quando tinha reunião de família na casa das minhas avós, minha mãe, ligava antes pra avisar que estávamos chegando pra dar tempo de guardar as coisas que poderia quebrar. Mesmo assim, nenhuma mão, chinelo ou cinto, jamais encostou em mim. Minha mãe só precisava dizer que ia me dar umas chineladas ou me pegar pela orelha que me aquietava.

Dos três filhos, minha mãe só bateu na minha irmã. Foi um tapa de leve, só para repreendê-la por ter mentido. Nunca fez mal algum, ela não desenvolveu nenhum trauma ou ficou depressiva por causa disso. Pelo contrário, ela nem de Crepúsculo gosta. Matutei mais um pouco sobre o assunto, mas acabei por deixá-lo de lado. A minha opnião não mudaria em nada. Resolvi tomar banho.

Como a resistência do meu chuveiro estava quebrada, fui tomar banho no quarto da minha irmã. Ao entrar, estranhei o fato dela estar deitada no chão fazendo abdominais. Afinal, ela estava há quase duas semanas sem ir para a academia. Fiz cara de pensativo e segui em frente, tudo o que queria naquela hora era só o banho quente. Entrei no boxe e esqueci do mundo do lado de fora. Terminado o banho, me enxuguei, peguei as roupas que havia deixado espalhadas e sai do banheiro. Qual não foi a minha surpresa ao dar de cara com a minha irmã:

- Que porra é essa?! Isso é um cabo de vassoura, né?
- Saia daqui vá.
- Mas você tá fazendo exercícios com o cabo da vassoura.
- Meu filho, vá cuidar da sua vida,vá.
- Minha mãe paga R$120 pra você ir pra academia, tem duas semanas que você não vai e agora tá aí com o cabo da vassoura.
- Doido, saia do meu quarto, me deixe em paz.

Sai, mas dei uma última resmungada antes de fechar a porta:

- Um cabo de vassoura? Puta que pariu!

Pensei:

- Minha mãe deveria ter batido mais forte...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Namorar X Casar

Todos nós, seres humanos, cometemos erros. Uns mais, outros menos. Fato é que, no post sobre namoro, cometi um grande engano. Alguns leitores se sentiram ofendidos quando falei que namoro era o inferno na Terra. Foi uma besteira ter dito isso e uma falha minha. Esqueçam aquilo. Lembrei que casamento era o verdadeiro inferno. Começar a namorar é apenas uma ida ao purgatório.

Namorar não é de todo ruim. Temos a companhia de outra pessoa e sabemos que ela estará ali para nos ajudar sempre que for preciso. É ótimo ter toda a confiança e a cumplicidade que um namoro proporciona. Claro que existem brigas. É normal. Discutimos até com amigos de infância. Então, por que não casar? Nada vai mudar. São duas pessoas que já se amam e que decidem juntar os seus trapos. Elas vão apenas oficializar a união deles perante a lei. Tempos depois, o marido tem que vender o rim esquerdo no mercado negro para pagar pensão à ex-mulher.

Você se ilude achando que as coisas não vão mudar, mas elas mudam. Todos os pequenos defeitos que você nem lembrava quando estavam de namorico na casa dela, se agravam após o casamento. Já imaginou essa sua namorada estressada? É, meu amigo, ela vai piorar. Você vai viver num verdadeiro campo minado. Por isso que os namoros tinha as suas vantagens. Se acontecesse uma briga entre vocês, ainda assim, vocês poderiam tomar seus rumos e voltar para as suas respectivas casas para poderem se acalmar e esquecer o que passou. Depois que casa, brigou, dorme com o inimigo. Ou sozinho na sala.

Se casamento fosse bom, -não precisava testemunha...- não seria necessário convidar esse tanto de gente. Metade você não conhece e a outra metade, você nem queria que estivesse lá. Pra que tanta testemunha? Já não basta terem que colocar o nome do Chefão no meio dessa história toda. Justo o nome Dele, que nem de casamento gosta. Se gostasse, padre também casava. Sorte da gente é que Ele ainda é piedoso. Como presente de casamento para o noivo, Ele ainda dá uma última chance para que alguém no recinto tente impedir toda a loucura. Na hora o noivo, mas aposto que, depois, ele lamenta por não ter amigos melhores.

Ter uma esposa é algo muito bom, ruim é ter que casar. Ao menos, agora as coisas estão mais fáceis para quem quer se separar. Ruim era antes. Até novas religiões foram criadas, apenas para que o seu fundador pudesse se separar. Bons tempos em que vivemos, em vinte e quatro horas, podemos comprar de volta a alma que vendemos ao capeta e continuarmos numa boa. Não critico quem casa. Todos nós erramos e merecemos ser perdoados. O que não dá pra deixar passar é quem casa de novo. Errar uma vez é humano, duas já é burrice. É como ser libertado da prisão e decidir voltar sem ter cometido nenhum crime. Perdoai-os, Senhor, pois, eles não sabem o que fazem. Mas, antes de se separar, pensem que poderia ter sido pior. Você podia ter comido um fruto proibido e ter sido punido com novecentos anos casados com a primeira e única mulher da sua vida. Pobre Adão.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Probabilidade de alguém ligar quando você...

...Acaba de chegar na academia - 2,31%

...Começa a conversar com um instrutor - 10,54%

...Está na esteira - 28,76%

...Para pra tomar água ou descansar - 0,33%

...Deixa o celular no carro ou em casa - 71,15%

...Estiver todo vermelho, quase se borrando e rezando para conseguir levantar a barra mais algumas vezes - 100,48%

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ficar X Namorar

Jurandir conhece Michele em uma festa da escola e fica com ela no fim da noite. Eles trocaram telefone, msn, orkut e, como essa é uma histórinha fictícia, se adicionaram e trocaram mensagens. Depois de muitas saidas e ficadas juntos, ele a pede em namoro. Por que não? Ela é bonita, inteligente, tem bom senso de humor e muitas coisas em comum. Nas primeiras semanas, subnicks amorosos e mensagens melosas no twitter. No segundo mês, Jurandir deixa de sair com os amigos para assistir filme na casa da namorada. Ao final do terceiro ele já está procurando suas bolas de volta. Mais três meses e o pobre coitado começa a desejar uma morte rápida, pois, namorar é uma morte lenta demais.

Os primeiros meses de namoro são simplesmente perfeitos. Todo mundo se ama e um não consegue viver sem o outro. Defeitos? Pff, nunca na galáxia. O amor da sua vida é uma divindade menor. Bastam algumas brigas para que você perceba que o seu pequeno pedaço de céu era na verdade o inferno na Terra e a sua anjinha é na verdade o Diabo de saias. As coisas que você achava que ela fazia por amor no começo são as que mais vão te mostrar isso. Ela te ligava todos os dias para perguntar como você estava? Quando você ia sair você avisava pra onde e com quem estava indo? Em alguns meses ela vai jogar na sua cara o fato de você nunca ligar para ela e você vai ligar pra pedir permissão pra sair. Tudo isso porque ela era bonita, inteligente, tem bom senso de humor e vocês tem muita coisa em comum. Que piada.

Acordem para a vida, crianças. Existem mais de seis bilhões de pessoas na face do nosso planeta. Qual será a possibilidade de que milhões sejam bonitos, inteligentes, te façam rir e de vocês terem coisas em comum? Então, por que nos prendemos à apenas uma delas? Há quem diga que é por causa desse tal de amor, mas o que é que nós sabemos sobre amor? Ficamos indecisos quando compramos roupa nova ou quando queremos comer. Quanto mais escolher alguém para passar um bom tempo juntos. É para isso que serve a ficada.

Ficar é igual a namorar, mas sem toda essa parte burocrática que torna qualquer relacionamento infernal. Você não tem que se preocupar em ligar no dia seguinte, você não tem que comprar presentes, não precisa de cavalheirismo o tempo todo e, o melhor de tudo, não precisa dar satisfações. Quando enjoa você simplesmente parte para a próxima e, ao final do dia, você ainda consegue colocar a sua cabeça no travesseiro e dormir. Não é maravilhoso? Conhecer várias pessoas e depois, aí sim, escolher alguém. Ou simplesmente deixar de sair com ela antes que se apaixone e voltar pra folia. Afinal, para o bom solteiro, todo dia é Carnaval.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O dom de reclamar

Quando Deus fez o mundo, as coisas e os animais, Ele deu um dom a cada um. As plantas tem a fotossíntese, os peixes nadam, pássaros voam, baratas resistem ataques nucleares e os seres humanos reclamam.

Se engana aquele que pensa que ao ser humano foi dado o dom de raciocinar. Todos os outros mamíferos são mais inteligentes que nós. Os cachorros, por exemplo, conseguem nos entender, mas nós não conseguimos decifrar todos aqueles latidos. Só porque eles obedecem, não quer dizer que sejam burros. Vejam os negros.

Nós nunca estamos satisfeitos com nada. É o nosso talento nato. Estamos tão acostumados, que reclamamos quando os outros reclamam. Até pra puxar assunto a gente reclama. Nas filas do banco a gente reclama do atendimento e da demora para não ficar calado por só-Deus-sabe quantas-horas, nos dias quentes reclamamos do calor e nos dias frios, reclamamos do frio. Estranho seria reclamar do calor nos dias frios e vice-versa. Nós somos contraditórios, queremos e pedimos as coisas, mas quando elas não acontecem bem exatamente do jeito que queríamos, reclamamos. Se não gosta do frio e nem do calor, não peça por dias frios ou quentes, peça por dias mornos.

Muitas vezes nem sabemos porque estamos reclamando, mas isso não empata em nada. O importante é arrumar um defeito. O pior é que a vida conspira para isso e sempre dá um defeito. Nada é tão perfeito que não possa ser melhorado. E os adolescentes comprovam isso.

Toda geração diz que a geração seguinte está perdida. Nós olhamos para a nossa geração e vemos que não dará tempo de mudar tudo o que queríamos e resolvemos deixar a conclusão dessa mudança para a próxima. Quando a próxima chega no lugar em que estávamos e faz a mesma coisa, a gente apedreja e diz que não se fazem mais adolescentes, revoluções e orgias como antigamente. Realmente, não fazem, mas venhamos e convenhamos, uma geração que curte Cine e Restart e que os maiores ídolos são um vampiro corno viado, não necessariamente nessa ordem, e um lobisomem depilado, é pior do que a geração que curtiu Harry Potter e escutou Fresno e Nx Zero. Não muito, mas deixa pra lá.