domingo, 30 de outubro de 2011

Engenharia como nunca civil (4)

Quando resolvi fazer engenharia civil, saí perguntando às pessoas que conhecia como era o curso. Foram só elogios. Curso bom, momento de crescimento e ótimos salários. Não pensei duas vezes e prestei vestibular pra me tornar engenheiro. Depois que entrei foi que vi a furada que eu tinha entrado. Tudo o que me falaram é realmente verdade, mas até chegar no lugar que você quer, você sofre e sofre muito:


Antes eu tivesse visto esse vídeo mais cedo.

sábado, 22 de outubro de 2011

Apenas mais uma de amor (14)

Chegou em casa tão apressado que nem viu o homem sentado na calçada. Há dias estava fora de casa, mas terminara o serviço mais cedo e decidira fazer uma surpresa para a esposa. Tocou a campainha uma, duas, três vezes e nada. Ela deveria estar em casa. Tinha mandado uma mensagem horas antes avisando que tinha organizado um sarau em casa. Ele ficara bastante feliz ao saber que ela finalmente começara a se interessar por livros. Foi só após a quarta tentativa que notou a presença daquele estranho:

- Se veio pra festinha que tava rolando, perdeu a viagem. Os tiras receberam umas denúncias anônimas dos vizinhos e levaram todo mundo pra delegacia, era pó demais. Deram nem tempo pro pessoal se vestir...
- Er... desculpa, mas o senhor deve ter confundido a minha casa com a casa de shows que fica no outro quarteirão. Todo mundo aqui na rua já esperava que isso acontecesse um dia.
- Não, não, é aqui mesmo. Tá aqui escrito no convite, pode ler se quiser.
- Huuum, parece tá certo. Rua B, número 69, próximo ao posto de gasolina e assinado por... como é mesmo esse nome aqui? Arlete Boqu... Porra mermão, mas essa daqui é a minha muher. Que palhaçada é essa? Mais cedo eu recebi uma mensagem dizendo que estava rolando uma festinha em casa, só que ela me disse que era um sarau. Uma festa culta e refinada, não essa pouca vergonha daqui.
- Ah, mas isso foi. Culta e curta. Ela até fez citações do livro daquela escritora famosa que lançou filme recentemente.
- A Stephenie Meyer?
- Não, a Raquel Pacheco. Ela pegou o livro nas mãos e disse em alto e bom som que hoje não iria dar, só distribuir.
- Ma... ma... mas ela me disse que era só um sarau!
- Vai ver ela digitou suruba errado. É aquela coisa, digitar mensagem em cima de um mecânico não é pra qualquer um.
- Teve touro mecânico!?
- Rapaz, se ele era um touro na cama eu não sei, mas mecânico eu sei que ele era porque vi o macacão sujo de óleo.
- Eu sabia que não devia ter confiado, todo mundo sabia e já tinha me alertado. Só o trouxa aqui ainda quis acreditar na palavra daquela vagabunda miserável. Sempre foi assim piranha na cama só que dizia que era só comigo. Ela que fique lá presa pra aprender. Na delegacia eu só vou com o meu advogado e os papéis da separação.
- É, meu amigo, quem mandou confiar em mulher? Bom...o recado tá dado e eu ainda tenho muito o que fazer. Até mais.
- Peraí, só mais uma coisa que ainda não entendi. Como é que você sabe disso tudo sem estar na festa?
- Pra falar a verdade eu estava, mas fui expulso pouco antes da polícia chegar. Quando chegou a minha vez, a senhora sua mulher mandou eu me vestir e ir embora. Disse que não queria ninguém com um nome que lembrasse você. Quando ela estava saindo daqui no camburão, me pediu pra tomar conta da casa por uns dias que eu seria recompensado depois, mas eu juro que não sabia que ela era casada! Só descobri porque ela falou quando me botou pra fora.
- Quer dizer que aquela rapariga ia te dar, mas ficou com pena do otário aqui? Aquela filha da puta me paga, vou acabar com a vida dela.
- Aí já é briga de marido e mulher e eu não tenho que meter a minha colher, com todo respeito. Papo tá bom, mas como já disse, tenho que ir. Satisfação te conhecer.
- De certo modo foi bom ter te encontrado aqui ainda. Primeiro porque isso me fez acreditar no que me diziam e depois porque é difícil achar alguém com um nome tão esquisito como Adalgamir.
- Adalgamir? Eu acho que você se enganou. Meu nome é Cornélio.

Acompanhou o outro ir embora com o olhar. Os vizinhos já começavam a aparecer nas janelas e portas. Não iria aguentar a gozação. Mudou-se sem nem avisar à família.

domingo, 9 de outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Tempos de escola - Coordenação

Durante toda a minha vida escolar, aproveitei bastante o dinheiro dos meus pais. Utilizei todos os serviços que a escola poderia me oferecer, dentro e fora do horário de funcionamento. Da sala de aula à enfermaria, que na época era apenas uma caixa enorme com uma tesoura e um punhado de gases, passando pela quadra, piscina, sala de informática (vulga lan house), sala de artes, biblioteca, secretaria, coordenação e diretoria, com ênfase nesses dois últimos.

A profissão de coordenador é a de engenheiro e a de mestre-de-obras da área de humanas. É ele que tem que interagir com os alunos e resolver os problemas deles. Como se não bastasse o fato de não se ter reconhecimento, estudante não é raça que preste. Faz amizade, mas na hora de fazer besteira não lembra que além de amigo, existe ali um profissional ao qual ele deve ser submisso. Bati muita boca com as coordenadoras até o ensino médio, às vezes com razão e às vezes sem, mas tudo isso acabou no 2º ano com a chegada de Lívia.

Ela é do tipo de pessoa que tenta ser amiguinha de todo mundo distribuindo sorrisos, mas que pelas costas só te passa rasteira. Era uma agente infiltrada pra acabar com a nossa alegria. Todos os dias ela ficava na portaria dando bom dia para os alunos, fato que sempre me fez crer que a tinham contrado para a função errada. Por educação, a gente respondia pra que ela se sentisse útil ali. Entretanto, as pessoas não têm a mesma paciência. Algumas têm mais, outras menos e outras simplesmente não têm. Esse último caso era o do Alexandre.

Todos os dias ela o cumprimentava assim que ele chegava e duas coisas aconteciam, ou ele passava direto ou dava uma resposta nela. Era sempre a mesma coisa:

- Bom dia, Alexandre!
- Só se for pra você.

O pior é que ela não desistia ou reclamava, mas, um dia, a paciência dela se esgotou com ele:

- Bom dia, Alexandre...Alexandre, eu disse bom dia, deixe de ser mal-educado e responda.
- Minha amiga, mal-educado eu vou ser no dia que te responder.

Sabem aquele ditado que diz que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura? Foi desse dia em diante que eu percebi que existem pedras que é melhor você deixar virgem.