sábado, 9 de outubro de 2010

Tempos de escola

Quando era pequeno, me disseram que a escola é a nossa segunda casa. Se é na cozinha que a gente fica com dor de barriga e solta uns peidinhos e no banheiro que tudo termina em merda, então, a sala de aula era a minha cozinha e as salas da coordenadora e da diretora eram os meus banheiros. Afinal, por mais que a coisa começasse a feder na sala, só dava merda quando passava por aquelas portas. Tinha dias pela manhã que eu já estava lá esperando, antes mesmo delas abrirem a sala. No primeiro dia, foi um susto, nos outros, foi uma ironia atrás da outra. Que bela surpresa você por aqui. Há quanto tempo, sabia que já estávamos com saudade? A verdade é que elas tinham medo de mim. Sabiam que a qualquer hora eu podia entrar na justiça e tomar a sala delas por usocapião.

A melhor coisa do mundo era ir para lá, significava que eu havia vencido e o professor perdido. Sabe quando você era pequeno e você brigava com alguém na rua e a pessoa saia correndo gritando que ia contar para a mãe? Você imaginava a platéia de aplaudindo de pé e o juiz segurando a sua mão lá no alto. Era a mesma sensação. Pena que a minha versão era sempre a errada. Ninguém nunca acreditava em mim, mas eu não me importava, lembrava da história e sorria pelo canto da boca. Ninguém gosta de um sorriso pelo canto da boca quando está dando uma bronca. Significa que, por mais que a pena seja dura, o crime compensou. E sempre compensava pra mim.

O bom de tomar uma advertência era a oportunidade de ir para casa mais cedo. Era como se o moleque que você havia batido fosse chamar a mãe dele e quando ela chegasse você batesse nela também e ela saisse correndo dizendo que ia chamar a sua mãe. Você vencia novamente, mas sabia que quando chegasse em casa ia tomar uma baita duma surra. Só que comigo era diferente. Meu pai foi pior do que eu, ele me entendia, sabia que a tradição havia sido passada adiante pelo sangue. Tanto é que, quando ligavam para ele, para dizer que eu estava atrapalhando o andamento da aula, ele dizia que era pra me deixarem em paz porque eles estavam fazendo a mesma coisa com o trabalho dele e nem por isso ele reclamava.

Quem ia lá resolver os problemas da escola era a minha mãe. Toda vez que ela voltava de lá, ela me perguntava se eu achava que estava certo. Bom, errado é que eu não estava. Da única vez em que eu fui suspenso por pular o muro, ela me levou para almoçar fora para que a gente pudesse conversar sobre o assunto. Foi nesse dia que ela me disse que nunca ia brigar comigo pelo que eu fazia na escola porque eu estava sob o comando dos meus genes. A única coisa que ela me disse é que iria na escola pegar todas as advertências que eu já tinha tomado, xerocá-las e fazer um mural para colocar no meu quarto. Bem que eu queria ter ganho esse mural, mas tudo bem. No outro dia, a diretora me perguntou o que eu havia ganho com tudo aquilo e eu apenas disse a verdade: um almoço e três dias de férias.

Nesse mesmo dia do almoço, meu pai me deu um conselho que resolvi seguir para o resto da vida: faça arte, mas nunca assine a obra, fica mais famosa a obra que o artista é desconhecido porque fica todo mundo querendo saber quem foi o gênio criativo. Ele estava certo, existem muitos mistérios sem solução no Liceu. Mistérios os quais eu prefiro que nunca sejam solucionados.

Um comentário:

Luiza disse...

kkkkkkkkk

Ri demais!!! Um anjinho você!