quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O que não dizer à sua mãe sobre a aula de Biologia

Era apenas mais uma aula de biologia do 3º ano. O assunto estudado, genética, falava da cor dos olhos, cabelo, cor da pele e tipo sanguíneo. Tudo estava muito bem. Os alunos entendiam perfeitamente o que era ensinado:

Mãe A, Pai A – Filho A
Mãe A, Pai B – Filho A, B ou AB
Mãe AB, Pai O – Filho A, B, AB, O
Mãe B, Pai B – Filho B

...

Eis que surge uma mão no ar, uma dúvida cruel a ser revelada para toda a sala:

- Professora, mas meu pai é B, minha mãe é B e eu sou AB.

A turma toda olha a garota que fez aquela pergunta capciosa. A professora para e já nega com a cabeça. Em todos os anos de profissão, todas as aulas e estudos, aquilo não era possível. Surge então o sorriso no rosto da professora.

- Tem certeza? Um dos dois deve ser AB ou A pelo menos.
- Não...os dois são B! Minha irmã é B.

A essa altura, já se ouviam sussurros pela sala, os alunos já comentavam qual seria a solução para o mistério.
A professora, que devia supostamente ser aquela a acalmar a garota e dizer que havia um problema ou um erro nas informações, faz o contrário e aumenta o sorriso zombeteiro.

- Minha queridinha...então, dos dois, um: Ou você não é filha de sua mãe, ou de seu pai. Procure saber por aí.

A sala então estoura em risadas. Bons amigos nós arranjamos na escola, não é mesmo? Aqueles filhos da mãe que não devem saber nem de que buraco saíram, rindo da pobre menina que, sem argumentos, vai ler o assunto procurando qualquer brecha que explicasse a situação.
Mas para a professora, ainda não era o bastante:

- Já vi um caso parecido com esse. A pessoa descobriu que era adotada depois de uma aula dessas. Menina menina, vá fazer esse exame de sangue de novo pra ter certeza. Ou olhe direitinho se você parece com seus pais.

Mais risadas de toda a sala.

- Eu sou a cópia da minha mãe. E tem quem diga que pareço bastante com meu pai. Mas vou procurar saber direito o tipo sanguíneo deles. ¬¬

...

No outro dia, em casa, a menina está na porta conversando com um amigo. Falavam banalidades do dia-a-dia. Eis que chega a mãe para falar com os dois. Conversa vai, conversa vem:

- Mãe, minha professora de biologia disse que eu não sou sua filha ou de meu pai.
- Como é? (E vejam que aqui – pela expressão da mãe -, a menina ainda teve chance de mudar de assunto)
- Estávamos tendo aula sobre grupos sanguíneos, daí eu falei que você é B, meu pai é B e eu sou AB. Conclusão...não sou filha de um dos dois.

*
E aqui, para um momento o relato para falar sobre o sentimento que se apoderou da mãe naquele instante.
RAIVA - é um sentimento de protesto, insegurança, timidez ou frustração, contra alguém ou alguma coisa, que se exterioriza quando o ego sente-se ferido ou ameaçado.
Consequências da raiva: Violência verbal, violência física, ódio, comportamento agressivo.
*
Foi aí que a menina percebeu o erro cometido. O amigo dela, a essa altura já tinha feito mil e um sinais pra que ela se calasse. Agora ele se resumia a uma mão na testa e cabeça baixa, prevendo o que vinha pela frente.
A mãe, que aparentemente esqueceu-se do lugar em que estavam, ou na verdade não se importou com isso (a raiva faz essas coisas), cruzou os braços, respirou fundo, e:

- Aquela vagab¨*&*&#@!@#!#@#!# safada tá pensando o quê? Uma professorazinha qualquer falando uma coisa dessas. Quem é? Me diga o nome dela que segunda eu vou na sua escola pra ela dizer na minha cara que você não é minha filha.

E como se desgraça pouca fosse besteira:

- Mas mãe, se você tem sangue B, meu pai tem sangue B, minha irmã tem sangue B e eu AB, tem A onde não devia.
- Eu quero saber porra nenhuma de A, AB ou o caralho que for? Eu vou segunda na sua escola falar com essa mulher e ela vai me dizer direitinho essa história. Tá pensando o que, rapaz. Ela é besta.

...

Segunda ela não foi à escola. Já devia ter esquecido. A menina procurou esquecer também, embora essa lembrança ainda a acompanhe até hoje. A lembrança e a dúvida: B, AB, A? Na verdade, anos se passaram e ela sequer procurou saber direito o tipo sanguíneo dos pais.

Afinal, até que ponto ia valer a pena saber a verdade?

3 comentários:

Luiza disse...

Tem coisas que é melhor deixar quieto!! :S

kaopkakpakao

Diego Felizola disse...

Na minha sala lá no Ideal, um menino também descobriu que o tipo sanguíneo dele não batia com o dos pais. Faço das palavras do professor a minha: sabia que você era adotada.

Se você não parecesse com a sua mãe.. ai ai

Anônimo disse...

Ih velho, que foda isso.

É realmente complicado você descobrir que "não é" filho dos seus pais, dessa forma.

Mas também foi muita sacanagem da professora em ter agido daquele modo.

De qualquer forma, se a menina não s eimportou em descobrir a verdade, também não irei me importar. ^^