sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Vida e morte de um escritor

Era um escritor em início de carreira. Era. Morreu alguns dias após ter lançado o seu primeiro livro.

Escrevera um romance. Uma comédia romântica para ser mais exato. As pessoas sempre querem mais comédias românticas. Mesmo se o autor mudar apenas o título e o nome dos personagens, elas ainda assim comprariam o novo livro. Foram meses trabalhando duro. Observou os casais de mãos dadas nas ruas. Prestou atenção nas conversas, na forma em que discutiam e logo em seguida faziam as pazes. Bastaria o namorado olhar para outro rabo de saia e a história se repetiria. Só tenho olhos pra você, meu anjo, nunca olharia para ela quando posso olhar para você aqui. Ela acreditaria e ele agradeceria pelo amor ser cego.

Seu editor reclamou de alguns capítulos, elogiou outros. Mudou apenas o que quis. Era seu livro. Trocaria de editora, mas não abriria mão da sua liberdade de expressão e das suas ideias. Esse foi o seu primeiro erro. Por fim, o livro foi aceito. Era um bom livro, pensava o editor. Era um best-seller, pensava ele. Esse foi o seu segundo e último erro.

Não tinha inimigos, mas isso não era necessário. Alguém tem que morrer para que alguém possa continuar a viver. Ele foi o escolhido. O assassino fora contratado por um jornal. Tinha algo em comum com a vítima, esse também seria o seu primeiro trabalho. Precisava conhecer mais sobre o alvo. Recebeu das mãos do contratante o livro que o coitado levara meses para terminar e leu para entendê-lo melhor. Optou por usar armamento pesado e atirar no ponto fraco.

Dois dias depois, como fez todas as manhãs dos últimos meses, o escritor saiu de casa cheio de si. Tinha uma tarde de autógrafos marcada para aquele mesmo dia. Primeiro faria um discurso, agradeceria todas as pessoas que o apoiara do livro, mesmo sendo poucas, depois um coffe break e, por fim, distribuiria algumas cópias autografadas e autografaria os demais. Jovens e adultos estariam lá para prestigiá-lo. Bela obra, tenho certeza que ficarei emocionada na mesma medida que me divertirei com os personagens. Faltava agora ter um filho e plantar uma árvore. Não necessariamente nessa ordem. Mal sabia ele que a morte o esperava na esquina.

O jornaleiro já o aguardava com o jornal na mão, mas, pela primeira vez em muitos anos, ele entregou o jornal e virou as costas. Não que isso tivesse chamado sua atenção. Ele estava muito animado para prestar atenção em qualquer outra coisa que não fizesse parte do seu mundinho particular. Abriu o jornal ali mesmo e foi direto para parte que o interessava. Poucos segundos depois, estava caido no chão. Foi levado por uma ambulância até o hospital. O médico o examinou, mas não tinha dúvidas, o escritor estava morto. Um único disparo. Um tiro de crítica negativa à queima-roupa no ego foi a causa do óbito. Nunca mais voltaria a escrever.

Um comentário:

Bruna Tavares disse...

caramba, que final mega surpreendente hein! Parabéééns Diego, ficou muuuito bom o texto (: haha

bj :*