sábado, 9 de outubro de 2010

Tempos de escola (2)

Apesar de não gostar da escola que estudei a maior parte da minha vida, sempre gostei de ir pra lá todos os dias. Meus melhores amigos e boa parte dos meus amigos de infância, estudaram e cresceram comigo por lá. Estivemos juntos praticamente o ensino fundamental e médio inteiros. Alguns tiveram a sorte de abandonar o barco mais cedo, outros não. Permaneci até o final do segundo ano do ensino médio. Até hoje ainda bato no peito para dizer que não fui expulso. Saí porque fui injustiçado, queriam me proibir de assistir as aulas, vê se pode.

Se o Liceu desse prêmios ao final de cada ano, dois deles seriam meus: maior frequência e maior tempo na sala da diretora. No meu discurso, no dia da entrega, agradeceria a minha mãe por nunca me deixar faltar e aos meus colegas por terem ido comigo até o purgatório.

Todos os dias, fizesse sol ou chuva, tempestade de areia, neve ou raios, eu ia para a escola. Se minha mãe não pudesse me levar, ia de carona, se não tivesse carona, ia caminhando. Não importava como, tinha que ir. Naquela época, o moleque espirrava em casa e a mãe já mandava fazer um suco de laranja e deixava ele em casa vendo desenho debaixo das cobertas. Aqui em casa era completamente diferente.

Minha mãe é médica, então, pra ela, sempre poderia estar pior. Quando ficava com febre, corpo mole e ânsia de vômito, ela vinha e me perguntava se estava bem. Não importava a minha resposta, ela sempre dizia que se eu conseguia falar é porque dava pra ir pra escola. Mesmo doente tinha que estar lá sorrindo e distribuindo simpatia pela manhã, o máximo que eu ganhava era um comprimido pra tomar caso piorasse e o direito de ligar pra ela caso o comprimido não adiantasse. O pior de tudo era que se você tivesse que ligar para sua mãe e precisasse de algum remédio enquanto esperava por ela, o colégio não tinha. Tudo que eles ofereciam era chá.

Não importava a doença ou os sintomas que você apresentava, a cura para todos os seus males era chá. Caiu no chão e cortou a perna? Chá de boldo. Tá com febre? Chá de camomila. Dor de cabeça? Erva cidreira. Tá triste? Capim santo. Nervoso? Hortelã. Dor de corno? Erva doce. Só tinha isso, a caixa de primeiros socorros era enorme, mas dentro só tinha uma tesoura e um pacote de gazes, nem esparadrapo tinha. Era como se fosse um hospital público, mas sem as filas. Descobri isso da pior maneira possível.

Uma vez, saí da sala porque estava com uma puta vontade de vomitar e fui até a secretaria. A secretária chamou uma das inspetoras que resolveu fazer um chá para mim. Nunca gostei de tomar essa porcaria, mas ela me disse que ele faria com que a vontade de vomitar passasse na hora. Ela estava certa. Assim que tomei, saí correndo para o banheiro mais próximo e vomitei tudo na pia.

Depois de ter vomitado, lembrei do dia em que bati a cabeça e abri o supercílio quando era primeira série. Quando cheguei na secretaria, com metade do rosto coberto de sangue, a secretária já veio toda agoniada:

- Meu Deus, que foi isso?

- Ah, bati a cabeça...

- Vije Maria, a coisa tá feia. Melhor você olhar pra cima.

- Assim?

- É.

- Vai melhorar?

- Não, mas vai melar menos agora.

Talvez, se tivessem me oferecido um chá de canela, eu não tivesse tomado tanto ponto. Se bem que, pro tamanho do corte, iam precisar de algo mais forte: chá de carqueja com biscoitos.

Um comentário:

Luiza disse...

Doido, todo colégio da chá!! Bem assim era no módulo ¬¬ oww raiva que me dava!