domingo, 10 de janeiro de 2010

Fata Viam Inveniunt

Lisbela tinha um sonho, o sonho de ser feliz.

Nem lembrava mais do dia em que juntara os dois primeiros elos. Agora, já eram 34 no total. Um para cada sonho que ela tinha. A única coisa que sabia era que já estava juntando há bastante tempo. Tanto tempo que já tinha sonhado o suficiente para formar um bracelete.

Dezoito anos, mas com bagagem de vinte. Sabia o que queria da vida e nunca parara de sonhar. Namorou homens de todos os tipos: brancos, negros, pardos, índios, amarelos e coloridos. Viveu aventuras de todos os sabores. Rodou o mundo sem ter saído de casa. Brincou seu riso sem ser incomodada. Tudo isso, sem nunca parar de sonhar. Sonhar para ela era o mais importante.

Ao completar dezenove, sua pulseira já contava com 45 elos. Eram muitos sonhos para pouco espaço, mas Lisbela não se importava. Sonhar trazia alegria para a sua vida. Seus sonhos eram a sua vida. Não sabia o que seria dela sem eles. Contudo, a vida é a melhor professora que se pode ter. Foi ela que mostrou a Lisbela o que seria dela.

Aconteceu antes de sair de casa. Lisbela namorava um colega de faculdade, mas não morria de amores por ele e nem chegaria a morrer. Ela discutia no telefone com ele enquanto se arrumava para mais uma noite de farra com as amigas. Era justamente esse o motivo da discussão. A ligação já estava chegando aos seus doze minutos de duração e parecia que não acabaria até que ela desistisse de sair. Foi enquanto ele falava que o seu bracelete arrebentou. Também, como não arrebentaria? Eles sempre arrebentam no elo mais fraco, no caso dela, no elo do amor.

O mundo calou-se por um instante. No celular, a voz que saia não alcançava os seus ouvidos. Seu Jorge parou de cantar nos autos-falantes do computador, como se respeitasse aquele momento. Lisbela pôde ver os elos caindo bem claramente. Eles foram se separando um a um, até que bateram no chão de forma disforme. Quicaram uma vez...Quicaram uma segunda vez...Quicaram uma última vez...E se aquietaram no chão frio. Ela olhou perplexa para o pulso e viu um único elo. Desligou o celular na hora e saiu correndo.

O mundo voltou a conversar com Lisbela quando ela deixou o celular cair e começou a correr com o elo na mão. Ela não conseguia parar de chorar enquanto corria em direção à lugar nenhum. Chorava de felicidade. Finalmente se libertara do peso que tinha no pulso. Na mão, carregava o único sonho que importava. O sonho de ser livre para correr atrás dos seus sonhos.

Lisbela tinha um sonho, o sonho de ser feliz. Lisbela correu atrás dele até o seu último segundo na face da Terra.

7 comentários:

Anônimo disse...

Por um momento achei que ela fosse ficar totalmente desesperada e insana por conta dos elos caídos. Mas foi bom que ela tenha se libertado e que finalmente tenha estado livre para se sentir a vontade.

Anônimo disse...

Em uma palavra? - Amei - Linda a historia, uma verdade né? Devemos correr atras dos nossos sonhos, da nossa liberdade para songar *.*

;**

- Nelle -

Anônimo disse...

*sonhar* affe xD

Kinha disse...

É impressionante o quanto vc se empolga mow, quando conta uma historia q chama a atencao.
Eu pensei tbm q ela iria chorar e nao sair correndo feliz kkkkk
Vc muda totalmente oq a gente pensa em torno da historia isso q torna diferente.
Adorei!
=o***

Unknown disse...

irmao vc é foda! adorei veih!!

Larissa disse...

AMEI DE PAIXÃO!
O melhor texto que eu já li seu! Há muitos textos seus que eu gosto muito mesmo. Mas acho que o melhor tem que ser um com o qual nos identificamos. Não é assim com o nossos melhores livros, ou músicas? Algo da nossa vida tem que estar ligado a eles. Eu "tenho em mim todos os sonhos do mundo", é o que tem escrito na almofada que Bele me deu quando eu viajei aqui pra Alemanha. ;)
Saudade de ti!
Continue escrevendo....
Ps.: Minha tia disse que quando vc tivesse textos novos era pra dizer a ela e mandar o site. Pois ela se esquece de entrar sempre, mas como gostou muito dos seus textos me pediu pra te pedir isso. Se quiser, me peça depois o e-mail dela.

Danilo Sobral disse...

Olhaaa ai agora, cheio de comentários, e você ficava resmungando que quando o texto dava trabalho ninguém valorizava, é só esperar um pouco