quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Segunda guerra mundial

Ninguém nunca havia percebido potencial algum nele além. Não que fosse ruim, mas também não era bom. Era suficiente. Também, ele se esforçava apenas para fugir dos valentões. A explosão e a resposta dos seus músculos eram perfeitas, mas só por alguns metros. Era realmente bom em nada. Sempre quieto no seu canto, passou do jardim infantil para a escola e de lá a a universidade. Não era das melhores faculdades na Alemanha, mas já era bastante para ele. Foi perto de se formar que a sua vida mudou.

Durante as férias, estava voltando para casa quando viu um senhor sendo assaltado. Para azar de um e sorte do outro, ao invés de tentar derrubar o ladrão que vinha na sua direção, fez uma finta e desviou rapidamente. Baixou a cabeça quando viu o ancião caminhar para perto dele, mas, ao invés de ser novamente menosprezado e chamado de covarde, ele foi convidado a acompanhá-lo. Decidiu que acompanhar aquele estranho era o mínimo que poderia fazer para compensar a carteira perdida.

Ao chegar na frente de um galpão abandonado, o desconhecido perguntou se ele já havia treinado boxe. Não ficou claro? Era um covarde, preferia correr a lutar. Aquele senhor era treinador e acreditava que ele tinha potencial, aquele jogo de cintura não era encontrado em qualquer lugar. Pediu um mês para torná-lo mais forte. Fez o jovem prometer que treinaria duro durante pelo menos um mês. Era o mínimo que poderia fazer.

E assim foi feito, durante as três primeiras semanas ele treinou os músculos pela manhã, técnicas e golpes pela tarde e a mente durante a noite. Na última semana, treinou com os outros alunos, ou melhor, foi espancado por eles. Todos os dias ele subia no ringue e fechava a guarda ao soar do gongo. Os conselhos do treinador de nada adiantavam, ele tinha medo. No último dia do mês, após horas apanhando, sem nem mais sentir os socos que acertavam o seu estômago, de olhos fechados, contra-atacou pela primeira vez. O barulho do corpo do adversário batendo no chão ecoou na sala, estavam todos calados com os olhos arregalados. Quando abriu os olhos, viu o sangue escorrendo da sua mão e pela primeira vez sentiu o gosto de vitória.

Apareceu no outro dia e nocateou todos aqueles que tinham lhe acertado. Não por vingança, mas porque gostava daquela sensação. Tornou-se um lutador perfeito. Ao bater do gongo, ele explodia para dentro da guarda do adversário e atacava com um potente cruzado ou direto. Nenhum deles conseguia acompanhar a sua velocidade. Tombaram todos aos seus pés e aí, as vitórias não tinham mais tanta graça. Mesmo a academia não tendo dinheiro, eles conseguiam fundos suficientes para pagar as passagens de ônibus. Logo, começou a frequentar os torneios locais, os regionais e depois de pouco tempo já estava lutando no nacional. Todos queriam enfrentar o novato. Em vão. Mesmo os que conseguiam manter uma guarda bem fechada, se ajoelhavam e rezavam quando encontravam os seus socos. Nada e nem ninguém parecia pará-lo. Ganhou o apelido de Blitzkrieg.

Sua fama alcançou os quatro cantos do mundo e começou a incomodar um certo inglês campeão mundial de boxe. As capas dos jornais e revistas traziam entrevistas com os derrotados, todos diziam que aqueles punhos não podiam ser de um humano. O que gerou um mito sobre ele ser um cyborg. Nenhum exame de dopping encontrou qualquer substância em seu corpo, o que aumentava mais ainda as lendas. Ele não poderia deixar a sua reputação e o seu título serem questionados daquele jeito. Entrou em contato com o criador da besta e marcou uma luta com o cinturão em jogo. Seria a segunda grande disputa que o mundo do boxe presenciaria. Providenciou as passagens e aguardou.

No dia D, a imprensa do mundo inteiro estava lá para o dia em que teria início uma nova era. Quando ambos os lutadores foram chamados ao ringue, o inglês subiu com ar de confiante, mas o alemão não compareceu. Esperaram, esperaram e nada. Ninguém conseguia entrar em contato com ele ou com o seu treinador. Ligaram para o aeroporto em que eles iriam desembarcar, mas a única informação que tinham era a de que eles não haviam embarcado. Receberam uma ligação de um aeroporto em Berlim. A mídia do mundo inteiro entrou em algazarra. A Blitzkrieg havia sido parada.

Sua carreira foi estilhaçada do mesmo jeito que ascendeu. A culpa não fora dele, ele nunca teve muito conhecimento mesmo, nunca soube de muita coisa. Como saberia que os seus ossos eram reforçados por uma liga metálica? Foi derrotado por um detector de metais.

5 comentários:

Dilma Tavares disse...

PQP que perfeito!!! Final inesperado. Vc é o meu mais recente orgulho. Parabéns, beijos

Celeste disse...

Desenvolvimento interessante, nos mantém presos cativos a cada frase, que nos brinda com final surpreendente. Parabéns pela facilidade de expressão.

Bruna Tavares disse...

Eu disse que ia ficar massa o post, não disse? Tá demaaaais meu bem! Super parabéns, o texto ficou ótimoo! É sempre bom falar algo sobre a Segunda Guerra né *-* hoho
E só pra não perder o costume: "Heil Hitler!" hihihihi

beijos :*

justfeelings. disse...

muito massa *-*

Luiza disse...

Hoje eu cheguei a conclusão de que eu NUNCA vou descobrir os finais dos seus texto! São sempre coisas inesperadas! Algo que ninguém, além de você, pesaria!
Gostei muito do texto! Demorei a ler, mas gostei muito do que li! Fiquei presa nele do começo ao fim querendo saber o que ia acontecer e quando cheguei ao final tive uma surpresa enorme!

Parabéns Diego!Pela milessima vez parabéns! A cada dia que passa você melhora mais!
:*