terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nada


Parado ali, olhando o vazio, ele levou as mãos à cabeça e fechou os olhos. Pensou arrependido na noite que acabara de ter e no ponto em que chegara agora.

*

Era o dia do aniversário de namoro e as expectativas de sua namorada foram as mais românticas e, na opinião dele, exageradas possível. Ele só tinha 22 anos e não se sentia preparado para tanto romantismo, para dar tanto valor a uma noite que era como qualquer outra. Não que ele fosse insensível ou que não fosse apaixonado pela namorada, mas achava que não devia se basear o amor e sentimento de uma relação pela quantidade de flores ou preço do jantar em uma noite só. Além disso, tinha o jogo na televisão. E foi exatamente por causa desse jogo que tudo desandou de vez.
Tinha combinado de sair para pegar um cineminha e depois jantar. Ele já havia comprado o presente dela, uma bolsa que a viu cobiçar dias antes. Planejava estar de volta em casa ainda no primeiro tempo, por isso o filme teria que ser curto e o jantar também.
Ela estava linda. Era linda, mas naquela noite, ele pensava agora, estava mais ainda. O filme durou mais que o desejado, mas o jantar compensaria afinal, ela estava fazendo dieta.
Chegaram ao restaurante na hora em que a chamada para o jogo passava na televisão. Estrategicamente, foi sentar-se próximo.
Pediram enquanto a novela acabava.
Comeram enquanto os primeiros comentários apareciam.
Pediram a sobremesa (ela se permitiu um doce pela comemoração) enquanto os times entravam em campo.
E chegou a hora de trocar os presentes na hora em que o jogo começou.
Ele ganhou um relógio e as horas mostravam que 10 minutos do primeiro tempo passaram.
Só então lembrou que o presente dela ficara em casa. Tinha esquecido de pegar, pois saíra de casa falando ao telefone com um amigo sobre o “jogão” que teria hoje.
Tentou se desculpar, mas ela viu que seus olhos se dividiam entre a namorada e a televisão.
Foram embora quando o time adversário fez o primeiro gol.
Discutiram durante o caminho. Como ela morava longe dele, decidiu que ele terminaria de assistir ao jogo na casa dela, já que seu pai torcia pelo mesmo time e já eram grandes amigos. Depois ela receberia o presente.
Chegaram e ele passou direto pela sogra. Um “Opa” foi tudo que ela ouviu. A namorada vinha atrás, com um sorriso irônico que a mãe não compreendeu. A garota foi para o quarto e bateu a porta: para ela, aquela noite já tinha dado o que tinha que dar.

*

E por isso tudo, ele agora se arrependia. Abriu os olhos e olhou em volta outra vez, esperançoso. Mas nada. Não ia encontrar. Ligou para a namorada, mas ela desligou. Devia ter ficado chateada de verdade. Ou estava apenas se vingando. Respirou fundo e tomou coragem. Faria o que era preciso.

- D. Lúcia? – chamou ele com um tremor na voz.

A sogra demorou um pouco, mas sua voz chegou do outro lado da porta. – Tudo bem aí, meu filho?

- Ahn, é que...hum...Acabou o papel! – Não acreditava que estava dizendo isso. E depois de ouvir a risada da mulher e o som do segundo gol do time adversário, jurou para si mesmo duas coisas: nunca mais deixaria sua namorada com raiva ou voltaria àquele maldito restaurante e suas comidas apimentadas.

5 comentários:

Bruna Tavares disse...

kkkkkkkk AMEEEEEEI o texto, Duca! Ficou ótimo mesmo =)

Anônimo disse...

Muuuuuito bom ducinha, parabéns!

Augusto Felizola Garcez disse...

kkkkkkkkkkkk

irado !!!

uma noite de merda na vida desses dois !

Nayara disse...

Adorei o texto,quanta sensibilidade!

Celeste disse...

Quando os relacionamentos ficam sérios... ficam chatos... renúncia, renúncia, renúncia...