quinta-feira, 13 de julho de 2017

Náufraga

Deixou que lhe convencessem de que deveria fazer aquele cruzeiro. Todas as pessoas da família e todos os conhecidos que vieram antes fizeram e tinham fotos pra mostrar o quão felizes ficaram. Era contra, mas o que podia fazer? A família era quem estava pagando, mal não faria que também escolhesse o destino.

Sua bagagem era grande demais pro navio, teve que deixar várias coisas para trás. Sem falar que a cabine não era tudo aquilo que lhe falaram. Deus!, não era nem mesmo aquilo que esperava na previsão mais pessimista. Agora que estava ali, só queria ir embora. Ligou para os pais e pediu que lhe buscassem. Ora, mal entrou no navio e já quer voltar? Daqui a pouco melhora, e, se não melhorar, cê volta.

Quis voltar na primeira parada, mas  a viagem nem começou! Insistiu para que voltasse na segunda, na terceira, na quarta, na quinta, mas já foi até a metade e vai voltar agora!? Já tá aí, termina! Não aguentava mais aquelas pessoas, aqueles assuntos, nem a equipe do navio animava. Como um marinheiro com escorbuto, a apatia e a irritação tomaram conta dos seus dias. Há muito já nem sabia o que era dormir direito.

Ao se aproximarem da oitava parada, o navio foi pego no meio de uma tempestade. Escorregou no piso do convés ao tentar voltar pra cabine. Ainda tentou se agarrar ao guarda-corpos, mas não teve forças para segurar. Ensaiou algumas braçadas em direção ao barco, mas sabia que não era aquilo que queria e parou. Tão logo veio e tão logo se foi a tempestade, lhe deixando ali sem destino certo, sem rumo. Completamente à deriva no meio da calmaria, flutuou esperando que a correnteza levasse.

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