segunda-feira, 17 de julho de 2017

Heroína

Foi um amigo que a levou para viajar pela primeira vez. Viajar de verdade, não aquelas idas com os pais para visitar a família no interior, mas sentir o mundo de verdade. Tinha uma ideia diferente sobre se desligar e deixar os problemas um pouco de lado. Era necessário enxergar a vida por uma outra perspectiva de vez em quando, não fugir, só se afastar e analisar como um terceiro observador.

Tinha acabado de terminar com o namorado após descobrir uma traição. Viu sua média despencar na faculdade logo em seguida e passou a fazer acompanhamento psicológico, mas não ajudou. Pelo contrário, a cada sessão lembrava de tudo aquilo que tinha vivido com ele, os planos, os nomes dos filhos, os momentos juntos... Vazio. Solidão. O filho da puta tinha que ir. Tinha? Tinha, e foi, levando com ele a felicidade de tudo aquilo. Deixou apenas um tumor maligno que se espalhava por dentro.

Aquela primeira viagem mudou tudo. Enquanto durou, nada além da sua própria felicidade importava. Que namorado o que, ela agora se bastava em si. Encontrou o caminho do prazer através dos seus próprios sentidos. Sentiu o gosto dos sons que chegavam aos seus ouvidos, o cheiro das cores que enxergava e se sentiu plena mais uma vez, até ser puxada de volta para a regularidade da vidinha de sempre.

Precisou viajar mais, se conhecer mais, se permitir mais, se afastar mais, se perder e se encontrar mais. Cada vez em um lugar diferente, mas o mesmo ponto de partida. Até que, de pico em pico, ganhou um mundo totalmente novo para chamar de casa. A família não conseguiu nem se despedir.

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