quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sonho de liberdade

No nordeste dos Estados Unidos, existia uma pequena propriedade dedicada à plantação de maçãs. Paul era quem cuidava delas junto com a mulher e um filho, mas o papel dele não será importante agora. As macieiras tinham duas opções que variavam de acordo com qual lado da cerca elas nasciam. Davam frutos vermelhos se nasciam do lado esquerdo e verdes quando brotavam do lado direito. Elisabeth nascera do esquerdo.

Desde pequena, quando ainda germinava e não entendia nada do mundo e do planeta em que estava, sentia-se diferente. Cresceu com essa sensação estranha. Teve a confirmação que precisava quando viu a cor das suas maçãs. Vermelho? Não existia cor mais feia e fora de moda. Aquela não era cor para ela. Queria algo mais, diferente e que a destacasse das demais. Ela nascera pra brilhar no meio de toda aquela cafonice. Não adiantou em nada a tentativa das amigas de tirar aquela ideia da cabeça dela. Macieira do lado esquerdo só tem essa opção, reclamasse ela com o fazendeiro. Ela apenas ria e sonhava.

Como vocês bem sabem, em fazenda pequena a fofoca corre rápido. Em pouco tempo, o pomar inteiro sabia que havia uma sonhadora. Uma assanhada, isso sim. Ela de espécie de família querendo se misturar com outras espécies quaisquer. Não naquele pomar. Entretanto, Lisa, como era carinhosamente conhecida, já estava decidida. Na próxima safra ela apresentaria novas cores.

Na primeira, o máximo que ela conseguiu foi deixar as maçãs menos vermelhas. Na segunda, algumas poucas ficaram metade verdes e metade amarelas. Na terceira, metade delas estava verde. Só na quarta ela conseguiu mudar a cor e o gosto de todas. Pena essa não ser uma história com final feliz. Queria encerrar aqui e contar que Lisa viveu por muitos anos feliz e do jeito que sonhou, mas não foi assim que as coisas aconteceram.

Paul era agricultor formado no campo e com especialização no seu pomar. Conhecia cada árvore e cuidava de cada uma delas. Quando percebeu que a coloração dos frutos de uma delas estava diferente, fez o diagnóstico e a medicou. Safra após safra, ele cuidou dela sem muitos resultados. Na quarta, após ter diagnosticado o problema, desistiu. Estavam todos os frutos verdes e nenhum dos pesticidas adiantou. Foi com grande pesar que ele pegou a serra, cortou a macieira e arrancou a raiz. Teve que ser assim, antes que as outras fossem contaminadas e ele falisse.

Ao menos fora livre uma vez na vida.

3 comentários:

Augusto Felizola Garcez disse...

é se voce começa a pensar parece que incomoda alguem ...

Bruna Tavares disse...

kkkkkkkkkkkkk Tadinha da macieira =/ ficou massa demais, mon bijou!

Luiza disse...

Não sei se foi isso que você quis dizer, mas a sociedade tem essa mania. Ela cria padrões e caso você fuga deles eles simplesmente te "cortam" do grupo.
Não sei se viajei demais, mas foi assim que esse texto me tocou... E sinceramente gostei do que li!