domingo, 13 de março de 2011

Sete pecados - Orgulho

Nasci quando o primeiro ser vivo morreu e viverei enquanto houver vida. Nada escapava de mim, tudo que respirava estava fadado a encontrar-se comigo. Não importava quanto tempo iria levar, todos seriam levados por mim até o Styx. Não existia ser vivo que não temesse mais a mim do que a Deus, eu era o mais adorado. Lúcifer era um tolo, não cometi o mesmo erro que ele. Ser o Todo Poderoso nunca foi o meu objetivo, era maior que Ele. Animal ou vegetal, a criação tornava-se efêmera nas minhas mãos, principalmente os humanos. Mortais feitos à Sua imagem e semelhança. Todos eles eram tementes ao desconhecido. Eram. As coisas mudaram.

No meu ramo, existe apenas uma regra que não pode ser quebrada. É ela que mantém a ordem do mundo no seu devido lugar. Se um nome aparece na lista, ele deve ser apagado. Para isso, não importa quanto tempo leve ou o método utilizado, contanto que só o encontre cara a cara, apenas uma vez. Ninguém se encontra comigo e sobrevive. Correm, fogem, tentam se esconder, em vão. Sou onipresente e onipotente. Lenta ou rápida, com ou sem dor, vermelha ou seca, tanto faz, eles devem morrer e eu tenho que me certificar disso. Não fosse a minha soberba, a minha relação com a criação, teria permanecido imutável.

Quando os três nomes apareceram, pensei que fosse ter um serviço simples. Não notei que caminhava para o meu abismo. Decidi levá-los de forma simples, nada muito trabalhoso. Crucifiquei-os no Gólgota, judeus e romanos como testemunhas. Esperei ao fundo, até que o do meio deu sinais de que não aguentava mais. Proferiu suas últimas palavras e olhou-me nos olhos. Ele sabia quem eu era, todos sabem, todos sentem quando encontram comigo. Vi que ele sorria para mim, mas não dei valor. Cada um expressa o medo da forma que quer. Fez a parte dele quando deu o último suspiro, fiz a minha quando caminhei até ele e perfurei-o com a minha lança.

Três dias depois, o nome dele reapareceu na minha lista. Iezus Nazarenus estava vivo novamente. Ele me vencera, morreu como mortal para que eu não notasse. O filho do Criador veio com a missão de mostrar quem estava no poder. Os humanos perderam o medo, tornaram-se tementes à Deus. Levá-los não é mais tão prazeroso, arrependem-se e confortam-se com as suas orações. Porém, as palavras estão perdendo o sentimento que havia por trás delas. As criaturas estão próximas de me vencer. Me dão mais trabalho para levá-los embora e, quando não mais conseguir levá-los, a quem temerão?

2 comentários:

Celeste disse...

Narrado pela morte, que foi vencida por Cristo Jesus. Ela ficou menos temida após o fato ocorrido. Lindíssimo texto!

Bruna Tavares disse...

O post ficou MUITÍSSIMO bem escrito e SUPER contextualizado. Adorei meesmo! Você tá, mais uma vez, de parabéns, Bijou! *-*