quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Nego

Agora eu sou o Negão que trocou o verão do nordeste pelo inverno de Portugal, o oxe pelo ora pois e a moqueca de peixe com camarão por esse tal de bacalhau. Agora não tem mais moleza, nem o conforto de casa. Nada de roupa, passada e lavada, guardada na gaveta, cama feita ou pia da cozinha vazia. A comida não surge nas panelas, os produtos de limpeza não se esfregam no chão, os sacos de lixo não tomam o elevador, e o cheirinho do banheiro vive vazio.

Bebo todos os dias porque o clima é frio, porque sempre tem promoção, porque tem festa, porque chamam, porque não tenho aula, porque tive aula demais, porque não tem nada pra fazer, mas na maioria das vezes, faça chuva ou faça sol, é tão somente porque eu quero. Basta ser líquido, até o tal do mátê quêntê vendo o pôr do sol no teleférico de Gaia.

Jogo frisbee, ando de caiaque, faço slack, corro, e não paro. Agora falo um pouco de francês aqui, uma pitada de italiano ali e um punhado de alemão, não é suficiente pra conversar com ninguém, mas é, por enquanto, o bastante. Não estudo, mas vivo o Direito nas ruas, no povo e no fundo de um copo de cerveja.

Sou da Bahia, de Cuiabá e do Acre, mas também sou mineiro, gaúcho, paulista e catarinense. É uai! com bah!, bolacha com biscoito, língua queimada pelo mátê quêntê no final da tarde. É o rolê num pico doidimais, e, principalmente, concordar que é tudo um demonho mesmo. É deixar de ser sergipano pra me apresentar como brasileiro, com muito orgulho, com muito amor-ôôôô!

Foi nessa mistura retada da peste, que mudei e fui mudado, que acrescentei e fui acrescido. Não porque o intercâmbio muda todo mundo, mas porque tive coragem de sair da minha zona de conforto.

Agora eu sou o Negão, cheio de paixão, te catá, te catá, te catá.

Um comentário:

Daiani disse...

Belíssimas palavras DEMONHOOOOOO
Saudades amigo!