terça-feira, 2 de abril de 2013

Coragem - Apenas mais uma de amor (17)

Dava na cara de quem falasse dela, justo ela, moça de família decente. Ainda mais quando vinha da boca de uns e outros que dela falavam, mas não sabiam o que tinham em casa. Dormiam com o inimigo e não sabiam. Umas desavergonhadas, mas que ninguém abria a boca pra falar nada. Isso tudo era inveja de tanta formosura. Deus dera a beleza que deveria ser de todas as moças da redondeza só para ela. Não tinha uma que chegasse aos pés dela, umas desqualificadas que viviam de fazer fuxico pros maridos.

Sempre tinha um pra falar, fosse na mesa do bar, ou na saída da missa. Oras, nenhum deles nem sequer tocara nela, casara virgem e com atestado de pureza dado pelas beatas. Era só porque a danada era bonita por demais, só podia. Um rebanho de mulher feia daquele que só arranjou marido porque os cabras não tinham opção melhor, uns cabras frouxo, cheios de ponta, pulando de cama em cama pra esquecer a miséria que tinham em casa. Qualidadezinha de cidade, viu? Ainda queriam encher a boca pra falar do raio de esperança que atingira aquele fim de mundo, um anjo enviado pra salvar essa terra de mulher feia. Tinha que mandar prender esse povo pra deixarem de ser besta.

Ainda tinham coragem de dizer na cara dele que ela tinha um amante, assim na lata. E como sabiam? Ninguém nunca via nada, ninguém nunca sabia de nada. Sempre a mesma conversa de que suspeitavam de alguma coisa só porque ela andava mais feliz. Ôxe, e ser feliz agora é crime, é? Ele sim que sabia, que estava sempre do lado. Tinha certeza de que ela sempre fora fiel à ele, o único das redondezas que não tinha a cabeça pesada. Se pudesse, levava ela embora, poupava a de tanta calúnia por parte desse povo mulambento. Sua vontade era casar com ela e se mandar dali, mas existe uma grande diferença entre defendê-la da língua afiada daquela gentinha e protegê-la da fúria do coronel quando ele descobrisse que sua mulher fugira com um de seus capangas.

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