domingo, 10 de março de 2013

Retorno

Tanto tempo se passara desde aquele dia em que a deixara sentada na cama chorando, que não sabia nem se ainda estaria lá. Acreditava que já teria trocado a fechadura, mas sentiu a chave girar na primeira tentativa. Hesitou. Ficou ali parado por alguns instantes. Não sabia como entrar ou como seria recebido. Deveria ter pensado bastante no que diria, escolher as palavras certas, talvez até levar um presente. Agora estava ali parado e não conseguia nem decidir se girava a maçaneta ou a chave. Provavelmente seria a última chance que teria para voltar para casa. Só não estava completamente certo de que era isso que queria fazer.

Desde que saíra de casa para encontrar o rumo que sua vida outrora perdera, fez promessas vazias de que logo voltaria, mesmo sabendo o quão difícil seria voltar após dar o primeiro passo para o desconhecido. A verdade era que gostava do conforto que elas traziam. Cada passo dado significa um passo mais distante dela, um abismo que talvez jamais pudesse ser fechado. Ao menos era assim que pensava, não imaginava que nunca havia sido abandonado por ela. 

Tanta coisa para dizer, coisas que apenas ela entenderia, e mesmo assim, não conseguia se mover. Imaginava a reação dela ao ver o quanto ele havia mudado nesse tempo, o quanto ele amadurecera. Não sabia se ela o aceitaria, mesmo implorando. Deus! Talvez ela nem o reconhecesse mais! Teve seus devaneios interrompidos pelo clique da porta:

- Não vai entrar? -simples, direto e sorridente.
- É...é...équetantacoisaaconteceue...
- Eu sei. Por que você não entra e a gente toma uma taça de vinho enquanto você me conta tudo que aconteceu? -como vivera sem ela todo esse tempo?-. Entra, estava te esperando.

*
Como é bom entrar em casa e perceber que nada mudou. Todas as minhas ideias ainda no mesmo lugar, protegidas da ação do tempo e do envelhecimento. Sei que muitas foram as vezes que prometi voltar a escrever e deixei a ideia morrer no pensamento. Que dessa vez não hajam promessas, apenas a certeza de que preciso escrever para me sentir vivo, tanto quanto as minhas crônicas precisam de mim para viver.

Um comentário:

Bruna Tavares disse...

Finalmente você voltou a cuidar do seu filho, Bijou! Que 2013 traga muita coisa boa aqui pro EV ;)