quinta-feira, 14 de março de 2013

Parabéns

Entraram as duas, mãe e filha. Ambas preocupadas, ambas apreensivas. Cumprimentaram o médico e sentaram-se nos seus respectivos assentos, sendo a mais velha apenas a acompanhante. A essa altura, já sabiam de cor e salteado toda a história que começara quatro meses antes no Carnaval, mas contaram mesmo assim, na esperança de que essa fosse a última pessoa a escutá-las.

As duas filhas ficaram doentes. Uma melhorou, a outra não. Mesmo assim, continuou medicando os mesmos remédios. Oras, se foi bom para uma, havia de ser bom para todas. Entretanto, nenhum funcionou. Eram dores, enjoos e náuseas, que iam e vinham sem aviso prévio. Senhora sempre muito religiosa, devota de muitos santos, rezou todas as orações que sabia e nada. Como saúde é coisa séria, não teve jeito se não marcar uma consulta. Foi aí que teve inicio uma bateria interminável de exames.

Verdade seja dita, ninguém sabia o que dizer. Já tinha feito vários exames, mas nada parecia se encaixar no quadro clínico. No exame anterior, achou que descobririam a causa e, mais uma vez, criou esperanças que logo foram destruídas. Fizeram uma tal de pesquisa de bactéria, como se bactéria alguma tivesse tempo para responder questionário. O médico então decidiu pedir uma ultrassonografia abdominal total. O que quer que estivesse ali, teria que aparecer.

Depois de escutar a história, pediu que levantasse a blusa para que ele pudesse espalhar o carbogel. Começou o exame sem saber ao certo onde procurar, mas estava procurando uma agulha no palheiro. Resolveu buscar mais informações:

- Desculpe a pergunta, mas a senhorita tem uma vida sexual ativa? - perguntou sem nem tirar os olhos da tela.
- Como? - entendera a pergunta, mas não queria acreditar que ela estava sendo feito. Pode ver sua mãe empertigar-se na cadeira pelo canto do olho.
- Vida sexual, a senhorita tem? - já nem piscava de tanta atenção que prestava.
- Não. 
- É virgem ainda? - a indiferença agora transparecendo.
- Com certeza.
- Ela é religiosa como eu, doutor.
- Sei, sei.

Continuou olhando por mais alguns instantes e sorriu. Tirou os óculos e prosseguiu:

- A senhora tem filhos?
- Não, apenas duas meninas, essa e a outra que tava doente.
- E netos?
- Não.
- Parabéns, o primeiro tá aí, tem quatro meses e é um menino. 

*
Depois ficou pensando se não teria sido mais engraçado dizer que era o novo messias.

2 comentários:

Augusto Felizola Garcez disse...

-Espírito Santo és tu ?!?!

- Rpz...sou eu não!

Diego Felizola disse...

Quero ver quem é que vai assumir kkkkkk