terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Culpa

Aracaju, algum dia-algum mês-2030.

15hs.




A cidade quase que completamente deserta abriga um casal de meia idade sentados sobre um grande lençol no que outrora foi o gramado do Parque da Sementeira. Outrora, pois hoje nada resta além do chão seco e das peças do que também já fora uma construtora. Sim, entre 2020 e 2021 o espaço que era do parque foi vendido para uma grande construtora que colocou ali sua sede, mas não deu certo e a empresa veio a falência alguns anos mais tarde.

Sentados ali, o casal com seus 40 e poucos anos lembravam...

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No shopping da cidade, nesse mesmo horário, a quantidade de pessoas ali presentes sufocava umas as outras na ínfima tentativa de estar num lugar fresco, um dos poucos lugares que ainda conseguiam manter ar-condicionado.

A partir do século XXI, o uso desse aparelho deixou de ser luxo para se tornar conforto, com os passar dos anos, de conforto chegou a ser necessidade e mais perto da data atual, raridade de poucos. O que acontecera é que a grande procura causara uma pane nas empresas que forneciam os produtos, e a falta de matéria-prima ajudou a criação da lei que agora vigorava permitindo que apenas locais públicos tivessem o aparelho.

Então cada vez mais pessoas se deslocavam quase que diariamente para esses locais, na tentativa de diminuir o calor que assolava a cidade, o estado, o país...o mundo. O problema é que a quantidade de gente ali não permitia que o efeito dos condicionadores de ar fosse meramente percebido...e o calor aumentava.

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Os aeroportos fechados por falta de empresas aéreas. Os poucos países que ainda se mantinham “saudáveis”, ou seja, não afetados pelas mudanças climáticas e outros problemas que deixaram grande parto do planeta morto, não aceitavam estrangeiros: tinham medo de que provocassem em seus países, suas fortalezas, o mesmo que fizeram em suas pátrias.

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De volta ao parque...o homem olhava o que um dia já fora um lago, lembrava de como eram as tardes que passava ali, olhando a paisagem, sem dar valor ao que via. Lembrou de como as coisas foram mudando, como as pessoas culpavam o governo, exigiam resolução dos problemas, mas nada faziam...ninguém.

A mulher lembrou como acharam uma grande ideia trocar o parque por uma construtora...evolução! Engano.

As coisas mudaram, pioraram, e ninguém percebeu até que já era tarde demais. Nada agora podia ser feito.

Deitaram-se. Sentiram o rosto queimar pelo sol forte. A temperatura de 53º não permitia a menor brisa. Poucos segundos com as costas no chão sentiam a pele queimar. Era o fim. E a culpa...era deles. De todos.

3 comentários:

Diego Felizola disse...

O homem fala em evoluir e expandir o seu domínio para outros planetas e galáxias. Porém, esquece de cuidar do seu próprio lar.

Os cientistas e engenheiros da NASA ainda esperam uma resposta das mensagens que foram enviadas pela agência. Ainda acreditam que irão conseguir provas de que existe vida inteligente fora da Terra. Claro que não vão encontrar. Vidas inteligentes que se prezem não iriam querer andar com uma turminha que destrói tudo.

Existindo vida lá fora ou não, deixo um conselho para as espécies que ainda não tiveram o seu espaço vasculado: escondam-se, estamos à caminho.

Luiza disse...

Amei o texto e amei o comentário de Diego! Já disseram tudo!

Augusto Felizola Garcez disse...

"tomara que o homem nunca consiga sair da Terra. Para que não espalhe a sua idiotice pelo universo"

a frase não é minha, mas a msg ta dada