quinta-feira, 12 de abril de 2012

Carlinhos

A primeira coisa que escutei do engenheiro no estágio foi:

- Conseguiu subir a ladeira com carro? Deu sorte, basta chover um pouco mais pra não chegar ninguém aqui em cima.

A chuva não deu trégua durante o resto do dia. Era o meu primeiro dia de trabalho e eu não queria fazer corpo mole, desci para o campo e conheci a obra e os funcionários. Dezesseis blocos de três andares cada, espalhados por uma área toda coberta por barro. A lama era suficiente para cobrir o meu pé inteiro. Mesmo assim, cumpri o meu papel sem reclamar. Quem achou ruim foi a minha mãe quando me viu entrar em casa com as botas imundas sujando o chão. Dois dias depois ela percebeu que tudo na vida pode piorar.

O céu desabava do lado de fora. São pedro, achando pouca a desgraça nos meus dois primeiros dias de trabalho, resolveu descarregar toda a água que ainda estava acumulada nas nuvens de uma só vez. Minha mãe, que nunca me deixou faltar aos meus compromissos, perguntou se realmente eu iria trabalhar. Como era o meu terceiro dia ainda, botei na cabeça que iria mostrar serviço, nem que não fizesse nada por lá, apareceria. Foi só ao terminar de me vestir que lembrei das palavras do engenheiro, por sorte, também lembrei que o meu pai conhecia algumas pessoas que moravam perto da obra. Quando expliquei pra ele que não conseguiria subir de carro e que precisava deixar o meu carro embaixo para subir caminhando, ele me mandou procurar um tal de Carlinhos na primeira casa depois da entrada. Foi o que fiz.

Foi difícil encontrar a casa. Mesmo com o desembaçador ligado, continuava sem enxergar nada direito. Quando finalmente encontrei, o portão já estava aberto e, como não vi ninguém, resolvi entrar. Parei o carro na frente da única porta da casa que se encontrava aberta e buzinei. Surgiu então um homem barrigudo, sem camisa, uma mulher com uma criança no colo e mais duas agarradas na perna. Deduzi que ele era a pessoa pela qual deveria procurar, mas resolvi ir com calma:

- Bom dia, estou procurando o senhor Carlos que mora aqui.
- Bom dia - respondeu meio desconfiado-, mas você vai me desculpar. Aqui não tem nenhum Carlos não.

Comecei a imaginar que estava na casa errada, mas como meu pai conhecia muita gente pela região, arrisquei mais um pouco pra ver no que dava:

- É o seguinte, eu trabalho nessa obra aí do lado, mas nessa chuva não tem como subir de carro. Meu pai me disse que eu viesse aqui atrás do sr. Carlos que ele deixaria eu estacionar o carro na casa dele.
- Como eu já te disse, aqui não tem nenhum Carlos não, mas como é o nome do seu pai?
- Homero, Homero Felizola.
- Ah, rapaz, eu conheço ele. Pode deixar o carro estacionado ali na frente que a gente toma conta.
- Pô,cara, brigadão mesmo. O senhor é que é o dono da casa?
- Não,não, quem mora aqui é Carlinhos, mas ele deu uma saidinha.

E depois disso eu ainda tive que caminhar um quilômetro e meio com o barro cobrindo a calça e a chuva batendo forte no rosto pra chegar na obra e escutar do apontador:

- Você é doido de vir trabalhar nessa chuva, é? Nem os engenheiros e nem os técnicos vieram hoje, Vá pra casa, negão, que você ganha mais.


3 comentários:

Duca disse...

Porque QUALQUER pessoa deve saber que Carlos não é o mesmo que Carlinhos!!! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
=P

Bruna Tavares disse...

fico tentando imaginar como seria a reação do seu pai se isso acontecesse com ele kkkkkkkkk

Augusto Felizola Garcez disse...

Duas constatações:
1ª se carlinhos saiu o que aquele cara fazia lá ?
2º estagiário é pra se FOD#!