sábado, 22 de outubro de 2011

Apenas mais uma de amor (14)

Chegou em casa tão apressado que nem viu o homem sentado na calçada. Há dias estava fora de casa, mas terminara o serviço mais cedo e decidira fazer uma surpresa para a esposa. Tocou a campainha uma, duas, três vezes e nada. Ela deveria estar em casa. Tinha mandado uma mensagem horas antes avisando que tinha organizado um sarau em casa. Ele ficara bastante feliz ao saber que ela finalmente começara a se interessar por livros. Foi só após a quarta tentativa que notou a presença daquele estranho:

- Se veio pra festinha que tava rolando, perdeu a viagem. Os tiras receberam umas denúncias anônimas dos vizinhos e levaram todo mundo pra delegacia, era pó demais. Deram nem tempo pro pessoal se vestir...
- Er... desculpa, mas o senhor deve ter confundido a minha casa com a casa de shows que fica no outro quarteirão. Todo mundo aqui na rua já esperava que isso acontecesse um dia.
- Não, não, é aqui mesmo. Tá aqui escrito no convite, pode ler se quiser.
- Huuum, parece tá certo. Rua B, número 69, próximo ao posto de gasolina e assinado por... como é mesmo esse nome aqui? Arlete Boqu... Porra mermão, mas essa daqui é a minha muher. Que palhaçada é essa? Mais cedo eu recebi uma mensagem dizendo que estava rolando uma festinha em casa, só que ela me disse que era um sarau. Uma festa culta e refinada, não essa pouca vergonha daqui.
- Ah, mas isso foi. Culta e curta. Ela até fez citações do livro daquela escritora famosa que lançou filme recentemente.
- A Stephenie Meyer?
- Não, a Raquel Pacheco. Ela pegou o livro nas mãos e disse em alto e bom som que hoje não iria dar, só distribuir.
- Ma... ma... mas ela me disse que era só um sarau!
- Vai ver ela digitou suruba errado. É aquela coisa, digitar mensagem em cima de um mecânico não é pra qualquer um.
- Teve touro mecânico!?
- Rapaz, se ele era um touro na cama eu não sei, mas mecânico eu sei que ele era porque vi o macacão sujo de óleo.
- Eu sabia que não devia ter confiado, todo mundo sabia e já tinha me alertado. Só o trouxa aqui ainda quis acreditar na palavra daquela vagabunda miserável. Sempre foi assim piranha na cama só que dizia que era só comigo. Ela que fique lá presa pra aprender. Na delegacia eu só vou com o meu advogado e os papéis da separação.
- É, meu amigo, quem mandou confiar em mulher? Bom...o recado tá dado e eu ainda tenho muito o que fazer. Até mais.
- Peraí, só mais uma coisa que ainda não entendi. Como é que você sabe disso tudo sem estar na festa?
- Pra falar a verdade eu estava, mas fui expulso pouco antes da polícia chegar. Quando chegou a minha vez, a senhora sua mulher mandou eu me vestir e ir embora. Disse que não queria ninguém com um nome que lembrasse você. Quando ela estava saindo daqui no camburão, me pediu pra tomar conta da casa por uns dias que eu seria recompensado depois, mas eu juro que não sabia que ela era casada! Só descobri porque ela falou quando me botou pra fora.
- Quer dizer que aquela rapariga ia te dar, mas ficou com pena do otário aqui? Aquela filha da puta me paga, vou acabar com a vida dela.
- Aí já é briga de marido e mulher e eu não tenho que meter a minha colher, com todo respeito. Papo tá bom, mas como já disse, tenho que ir. Satisfação te conhecer.
- De certo modo foi bom ter te encontrado aqui ainda. Primeiro porque isso me fez acreditar no que me diziam e depois porque é difícil achar alguém com um nome tão esquisito como Adalgamir.
- Adalgamir? Eu acho que você se enganou. Meu nome é Cornélio.

Acompanhou o outro ir embora com o olhar. Os vizinhos já começavam a aparecer nas janelas e portas. Não iria aguentar a gozação. Mudou-se sem nem avisar à família.

5 comentários:

Duca disse...

D:
o primeiro texto seu que eu li esperando uma mudança no final e não aconteceu, o que me deixou mais surpresa ainda!
Coitado do Adalgamir!!! kkkkkkkkkkk

P.s.: ler esse texto escutando funk gera boas risadas!

Bruna Tavares disse...

Arleteee KKKKKKKKKKKK ri muuuuuuuuuito =) o texto foi muito bem bolado e está muito engraçado hahaha
tá de parabéns, bijou! =))

Anônimo disse...

Diego, adorei o humor presente no texto, ficou leve, relaxante e divertido... quem sabe esse gênero não seja sua praia?

Celeste disse...

tive que postar como anonimo por que o provedor ta bloqueando... mas é Celeste
Beijos

Augusto Felizola Garcez disse...

moral da história :

homem com nome difícil é corno !

eu me chamo augusto ! kkkkkk